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Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Onde estava eu no 25 de Abril de 1974

  
Eu tinha sete anos no dia 25 de Abril de 1974.
Andava na 2ª classe e recordo-me de acordar e ouvir os aviões da Base Aérea de Alverca a sobrevoarem a minha casa.
- Oh mãe, o que é que se passa?
- É a guerra, vão levar tudo...
Tudo? Ai, os meus brinquedos, pensei eu. Lembro-me tão bem.
Sempre fui muito ciosa das minhas propriedades, que na altura se limitavam a tachinhos, panelinhas, alguidares, chávenas, pratos, etc. Tinha um saco enorme cheio de tralha que o meu padrinho me trazia da fábrica do Omo, onde trabalhava.
O Omo, para os mais novos, era um detergente em pó para lavar roupa à mão, numa altura em que poucas pessoas tinham máquina de lavar roupa, e que trazia uns brindes nos pacotes. Normalmente uns brinquedos em plástico, de que eu tinha assim uma quantidade industrial.
Lembro-me particularmente de uma balança daquelas antigas com dois pratos que eu adorava de paixão. Sempre fui muito ligada à cozinha...
Pensando na tal "guerra", (a minha mãe ainda é mais dramática que eu), resolvi tomar medidas drásticas.
Abri um buraco no quintal e tratei de pôr as minhas coisas a salvo. Meti todos os meus pequenos brinquedos, na verdade e pensando bem no assunto, os meus primeiros utensílios de cozinha, no buraco e tapei-os novamente.
"Podem levar tudo, menos as minhas coisas", pensei.
Lembro-me tão bem.
Arranjei-me e fui para a escola, de onde voltei recambiada e contrariada, para casa, porque havia uma revolução, palavra desconhecida para mim, e portanto nada de aulas.
Depois lembro-me das músicas na televisão, o "Grândola Vila Morena", "Depois do Adeus", uma de que não sei o nome mas que tinha uma estrofe: "Vi as portas da prisão abertas de par em par, vi passar a procissão do meu país a cantar, agora o povo unido, nunca mais será vencido...". As coisas de que me lembro. O meu disco rígido é ilimitado para estas porcarias...
Aos poucos fui adquirindo outros conhecimentos sobre o dia em que não tive escola e percebendo a importância que isso tinha para as pessoas, para o país.
Aos sete anos a perspectiva de um país mais livre não me dizia grande coisa. Lamento, mas os meus brinquedos eram muito mais importantes para mim.
Anos mais tarde, por volta dos anos oitenta, na altura em que Portugal descobriu as marquises, uma coisa que nunca devia ter sido inventada, de tão feia que é, os meus pais, sempre muito atualizados nestas coisas, também construiram a sua marquise.
Onde?
Exatamente por cima dos meus brinquedos que ainda estavam enterrados onde os escondi para os proteger da "guerra" e onde ainda hoje estão.
Imaginem daqui a uns milhares de anos, as civilizações futuras a procederem a escavações naquele sítio e as notícias das descobertas: "No século vinte as pessoas eram minúsculas. Vejam o tamanho dos seus utensílios de cozinha". E tudo por culpa de uma cachopa dramática que resolveu proteger de forma radical as suas preciosas propriedades.
E já agora ficam a saber que continuo tão dramática como era no dia 25 de Abril de 1974. 

Os meninos brincam com carros, as meninas com bonecas...

Os meninos brincam com carros, as meninas com bonecas…

É assim, de forma inconsciente, que começamos a enfiar preconceitos e ideias feitas nas cabeças das crianças. Preconceitos que mais tarde se podem revelar muito dolorosos para quem é alvo deles.

Acabei de ler há uns dias “O Sexo Inútil”, de Ana Zanatti. Um livro que acabou por se revelar um enorme murro no estomago para mim, que até nem me considero uma pessoa preconceituosa, xenófoba ou racista.

“Queria muito encontrar uma palavra que denunciasse esta desrazão”: de como o amor pode transformar-se numa doença aos olhos de quem ama ou de quem a ele assiste. Uma palavra que despertasse em todos a consciência de que o nosso valor é determinado por nós e não o podemos deixar à mercê dos outros, de que não podemos transformar a nossa dignidade e liberdade de ser, numa espécie de acção cujo valor sobe e desce consoante as tendências do mercado. Uma palavra que, mesmo quando sentimos que alguém desrespeita ou não reconhece a nossa humanidade, quando somos excluídos e ofendidos, mantivesse bem presente a nossa identidade e lhe desse a possibilidade de se manifestar na sua plenitude. Uma palavra que não permitisse que a nossa face vulnerável, o desejo de agradar, os medos e inseguranças abrissem uma brecha na nossa mais profunda identidade e uma mão estranha se apropriasse do que é nosso por direito”.

Este é o primeiro parágrafo de um livro de 517 páginas onde Ana Zanatti fala sobre o medo de amar que ainda sentem muitas pessoas hoje em dia. Porque no fundo é apenas disso que falamos, de amor. E o amor não tem credo, raça, idade, classe ou género, é simplesmente amor e como tal deve ser olhado.

Como escrevi atrás não penso ser racista, xenófoba ou preconceituosa, mas também eu faço inconscientemente algumas perguntas que podem ferir ou magoar a outra pessoa, mesmo que não seja essa de todo a minha intenção. “Quando é que arranjas uma namorada/o?” é um bom exemplo. Imaginemos alguém que se encontra numa fase de descoberta ou de confusão sobre a sua sexualidade e a quem é perguntado isto, sempre supondo que o objecto do amor será um ser do sexo oposto. Já imaginaram o sofrimento e angústia que uma pergunta destas pode representar? Pois, nem eu. A partir de agora vou tentar simplesmente perguntar, “quando é que te apaixonas?”, que me parece muito mais sensato. Ou então não perguntar nada porque a verdade é que não me diz respeito a vida amorosa de ninguém.

No seu livro Zanatti incluiu muitos relatos de pais e filhos, alguns dos quais verdadeiramente chocantes e vai acompanhando a história de Joana, uma estudante universitária de Medicina em luta contra o preconceito da sua família e com o medo de não desiludir os pais ou defraudar as expectativas e sonhos que eles criaram para ela. E que vive infeliz porque a vida que vive não é aquela que escolheria.

Do ponto de vista de uma mãe, houve um capítulo que me tocou ainda mais, aquele em que se fala da “saída do armário” dos pais que descobrem ter filhos homossexuais. Um ponto que até agora não tinha lido ou visto abordado, mas que me parece da mais fundamental importância. Porque os pais, mesmo alguns dos que dizem aceitar (que raio de palavra, também os teriam de aceitar se não fossem gays?), acabam por consciente ou inconscientemente “esconder” os filhos das suas relações sociais. Quantos pais é que já ouviram, em resposta à pergunta “então o teu filho já tem namorada?”, responder “não, o meu filho tem um namorado”? Eu confesso que até ao momento nenhum e até conheço alguns casos. O que é triste, porque na verdade acabam por criar um enorme sofrimento nos filhos que para estarem com os pais, tios, avós, primos, amigos, etc, têm sempre que deixar os seus companheiros de fora. Mas já se for uma filha com um namorado ou um filho com uma namorada as coisas são diferentes. Triste, muito triste.

Os pais apenas devem desejar para os filhos que estes sejam felizes, que amem e sejam amados e não se preocuparem com a opinião da vizinha do sétimo esquerdo que não tem nada a ver com o assunto. E devem ter orgulho nos filhos, sejam gays, hetero, bi, ou o que forem, porque afinal eles serão sempre seus, independentemente das suas orientações. Devem simplesmente amá-los porque eles serão sempre as mesmas pessoas e não é uma orientação sexual que faz um ser humano. Mais importante do que saber quem dá a mão ao filho é importante saber que existe alguém que lhes dá a mão e os faz sorrir. Alguém que caminha ao lado deles e partilha os seus sonhos.

A vida é uma caminhada demasiado pequenina para nos perdermos em pormenores. Sejam felizes.

Os meninos brincam com carrinhos e bonecas e as meninas brincam com bonecas e carrinhos… E o mundo será um sítio mais bonito.

A Lagartixa

Quando dei por mim estava no chão mesmo encostada à parede e só conseguia ver um pé uma e outra vez na minha direcção. Conseguia ouvir a voz da minha filha: - Pára! Pára! Estás a magoar a mamã! Pára!!!! E chorava, a minha filha linda chorava. Eu odeio ouvir as minhas filhas chorar. Ainda hoje odeio esse som. E eu só conseguia pensar que as lagartixas devem sentir-se assim, quando os miúdos as picam com pauzinhos. As coisas em que pensamos. Nem sei como conseguia pensar. A dor começou a tomar conta de mim. A dor física e outra pior, a de ouvir a minha filha chorar. Queria-me levantar, pegar nela, tirá-la do colo do pai e consolá-la. Só queria que ela parasse de chorar. Mas porque é que não me consigo levantar? Que estupidez. O meu corpo não me obedece. Eu quero levantar-me, quero sair daqui. E não consigo... Foi só quando a mais pequenina, que tinha apenas dois anos apareceu a chorar, também a chorar: - Mamã, mamã! Tás a choiar? Imaginei um daqueles pés a acertarem na minha menina tão pequenina e o meu corpo obedeceu-me. Levantou-se, pegou nela ao colo e fugiu a fechar-se na outra sala. E ela soluçava no meu colo: - Mamã, não choies. Eu faço-te fetinhas. Dou-te beijinhos. Tão pequenina. Tão frágil e ao mesmo tempo tão corajosa, a minha bebé. E a irmã continuava a chorar: - Eu quero a mamã! Quero a minha mãe. Larga-me. A minha mãe está a chorar! Deixa-me. - A tua mãe é uma ordinária. Não gosta de ti. Vamos para casa da avó. Como é que isto foi acontecer comigo? Como é que cheguei até aqui? Este homem esteve presente nos dois dias mais importantes da minha vida, viu as minhas filhas nascerem... Como é que de repente se tornou neste monstro a pontapear-me contra uma parede? Deixei de ouvir a minha filha. O pai levou-a. E recomecei a ouvi-la: - Quero a minha mãe. Deixa-me ir para o pé da minha mãe. - A tua mãe é uma puta! Uma cabra! Uma vaca! ... E por aí fora... A minha filha com apenas quatro anos ouviu palavras que nem sabia que existiam e muito menos o que significavam. O pai e os meus pais disseram-lhe em menos de cinco minutos o pior que se pode dizer de alguém. E ela só tinha quatro anos. O meu bebé. A mais pequenina continuava a tremer nos meus braços. A chorar descontroladamente. Tão pequenina. Esqueci-me das minhas dores e fiz os possíveis para a consolar. Felizmente estava cansada e acabou por adormecer. Bateram à porta: - Maria, estás aí? Abre a porta. É a mãe. Mãe? Mãe deve significar colo, carinho, consolo, apoio, AMOR. Esqueci-me que era a minha mãe que estava do lado de fora. Abri a porta pronta a receber o abraço de que tanto precisava. - Onde é que está a menina? Dá-ma. Vou levá-la para baixo, para o pé do pai. Deixa-me entrar. Já devia ter percebido. A minha mãe não me ia dar a satisfação de me dar consolo, ou sequer de me defender fosse do que fosse. É evidente que tinha vindo buscar a minha filha, quando devia ter-me vindo trazer a mais velha. Nem sequer posso dizer que fiquei chocada. Já estava habituada. Empurrei-a. Não sei se caiu da escada ou não. Fechei a porta e tranquei-a. Deixei a chave do lado de dentro, para ninguém entrar. Percebi que estava sozinha. Como sempre. E aparentemente para sempre. Comecei a ouvir um barulho na casa de banho. Estavam a tentar levantar o estore pelo lado de fora para abrirem a janela e tentarem entrar. Tranquei o estore e pelo sim pelo não, tranquei a porta. Comecei a entrar em pânico. Achei que me queriam matar. Eu sei que pode parecer dramático, mas foi exatamente o que achei. "Eles querem-me bater mais. Querem-me matar. Ninguém me vai ajudar." Entrei em pânico completo. Comecei a ouvir o ruído de uma escada a ser encostada à varanda da cozinha. Estavam a tentar entrar por aí. "Meu Deus, o que é que eu faço?" Não podia sair por lado nenhum. Estava completamente encurralada. Os meus pais e o meu, na altura ainda marido, podiam matar-me se quisessem e eu não tinha ninguém a quem recorrer. Liguei a uma amiga: - Rosa, eles vão-me matar. Ele bateu-me. Levou a minha filha. Estão a tentar entrar em casa. Muitas frases sem nexo. A minha amiga tentou acalmar-me. Finalmente lá consegui contar-lhe o que se passava. Mas é melhor começar pelo principio… Isto tudo aconteceu no dia 10 de junho de 1996. O meu casamento estava por menos de um fio, estava completamente esgaçado, não havia nada a fazer para o salvar. Costumo dizer, agora, que já passaram muitos anos, que fomos duas pessoas que casaram em Lisboa e depois cada uma delas tomou um rumo diferente, um foi para norte e o outro para sul. Não interessa para o caso qual dos dois rumos era melhor. Eram diferentes e foi isso que nos separou. Somos pessoas diferentes, com objectivos diferentes. Tínhamos mesmo muito pouco em comum, mas quando o conheci e me apaixonei acabei com todas as hipóteses de ver isso antes de nos magoarmos irremediavelmente.

A independência

Parece que ando aqui a tentar seguir uma linha de escrita, mas a verdade é que o post anterior e este são pura coincidência.

Passei o último sábado a ajudar a minha filha mais nova numa mudança de casa. Desde Agosto do ano passado que ela vive com o namorado num pequeno apartamento, um T1, tão pequenino que caberia inteiro na minha sala e ainda sobrava espaço.

Pequeno, mas muito suficiente para o casalinho, de 22 e 23 anos, ambos felizes com a independência conquistada a pulso.

Este fim-de-semana mudaram para um outro apartamento, igual em tamanho, melhor em qualidade de remodelação, dentro do mesmo prédio.

Eu sou uma estranha criatura nestas coisas. Fiquei tão genuinamente feliz quando ela falou comigo sobre ir viver com o namorado, como genuinamente feliz fiquei por me ser permitido ajudar, limpar, arrumar, participar…

As minhas filhas podem tudo desde que nunca me excluam. Façam-me sentir parte das suas vidas e eu estarei sempre feliz. Mesmo. E muito.

“Mãe, a cozinha é da tua inteira responsabilidade”. Música para os meus ouvidos. Adoro cozinhas e arrumá-las, então… É o sonho. Poder começar a encher armários, a planear onde se coloca o tacho, a espátula, os pratos… coisas de quem inventa pretextos para passar mais tempo na cozinha e se esquece que é preciso aspirar os pêlos da gata da sala…

Por isso na semana passada cozinhei (tínhamos que almoçar, certo?), planeei mentalmente tudo o que queria fazer e no sábado rumei a Lisboa, feliz da vida, por poder ajudar o casalinho a montar o seu novo ninho.

É tão gratificante ver a minha menina ( a mais velha também está no seu percurso de independência, mas é uma outra história), a viver este novo período da sua vida. O seu primeiro emprego, o receber o diploma de final de mestrado (o que eu chorei…), a ser feliz com o namorado e a gata que adoptaram… No fundo tudo e resume a vê-la crescer, tornar-se cada vez mais mulher e menos menina. Não para mim, claro, que no meu coração será SEMPRE o meu pequeno bebé, que agarrava o meu dedo na busca de consolo.

Eu sei que ela já é adulta, está lançada num mundo, que nem sabe o que o espera, mas para mim…

Saí de Lisboa já tarde, umas quase nove da noite, de músculos doridos e coração pleno de felicidade. O sorriso da minha filha, o sorriso do namorado, foram mais que suficientes para esquecer dores e cansaço. Não há nada melhor para o coração que o sorriso de um filho. Nada.

O mundo pode ruir, pode abanar à vontade. Enquanto as minhas filhas me amarem, me incluírem nas suas vidas, me deixarem arrumar as cozinhas e melhor, cozinhar para elas, o meu coração será sempre feliz. Tão feliz que às vezes parece explodir de felicidade.

A minha menina já é completamente independente. E eu adoro que assim seja. Mas ainda precisa do meu amor. E isso é o meu combustível. O amor move o mundo. Que pena que às vezes tanta gente se esqueça disso.

Parece que foi ontem que me despedi delas para irem para a faculdade. Passaram quatro anos e meio e tudo mudou. Para tão melhor.

Muito grata à vida pelas minhas meninas e pelo seu progresso e crescimento. Muito grata por me terem escolhido para mãe e me amarem tanto. Mais grata por me ser permitido amá-las sem pudor. Intensamente. A única forma que conheço de amar.

A dependência

Nascemos dependentes e, ironicamente, morremos dependentes. Não todos, claro. Mas muitos. Quer dizer, nascer nascemos todos dependentes, morrer já é outra história.

O meu pai já teve dois AVC’s, o último dos quais lhe afectou a visão periférica para o lado esquerdo. Perdeu cerca de 50% dessa visão periférica. Entretanto foi operado para retirar uma pele do olho direito, resultado de uma lesão antiga no trabalho e recuperou alguma qualidade de vida.

Ver o meu pai perder a sua independência tem-me feito pensar muito nestas coisas.

Lembro-me de ter ido com ele a Lisboa e de o ver completamente em pânico na rua, agarrado ao meu braço como um miúdo pequeno e a assustar-se sempre que via alguém perto dele. O meu pai estaria com cerca de 25% da visão normal de um ser humano. É muito pouco. Já se imaginaram com um olho totalmente tapado e com o outro quase completamente tapado? É difícil, não é?

E no meio disto tudo, a minha mãe só lhe atirava à cara que ele era um “taralhouco”, que parecia um parvinho na rua. Enfim…

Nós nascemos completamente dependentes das nossas mães ou de quem as substitua nesse cuidado tão precioso a todos os bebés e, se pensarem bem, começamos logo à nascença a lutar para nos tornarmos independentes.

Começamos a mamar, choramos para reivindicar comida ou o que quer que seja, depois começamos a levantar a cabeça, na tentativa de ver o mundo, depois viramo-nos, e às vezes caímos das camas durante esse processo. Gatinhamos, andamos, corremos, aprendemos a andar de bicicleta, tiramos a carta e a nossa movimentação torna-se independente. Paralelamente aprendemos a comer sozinhos, a falar, a ir sozinhos para a escola, a ler, a fazer contas e acabamos por nos tornar independentes financeiramente.

E depois há um dia em que acontece qualquer coisa que nos acaba com todas estas conquistas. No caso do meu pai foi um AVC.

Eu passei em 2015 por uma experiência de semi-dependência e digo-vos já que não deve ter sido nada fácil lidar comigo.

Parti o pulso direito, tive de ser operada e levei meses para recuperar a autonomia da mão. Durante as primeiras semanas necessitei de ajuda para coisas básicas como tomar banho e descalçar as botas. Felizmente, sim que eu sou daquelas que vê sempre o copo meio cheio, não sou completamente desajeitada com a mão esquerda e conseguia pentear-me, vestir-me (excepção feita ao simples acto de abotoar o soutien), lavar a cara e os dentes, sozinha. Devagar, muito devagar, mas conseguia e isso é que importa. Sou bastante resiliente e até consegui cozinhar coisas básicas como carne guisada e fazer um pão-de-ló só com a mão esquerda. Se foi fácil? Nada, mas fiz.

Mas não podia conduzir, o meu marido tinha que me partir a carne e separar as espinhas do peixe, mas tirando isso a coisa foi-se dando. E sempre a manter-me optimista e a pensar que era uma situação passageira, que iria recuperar.

E recuperei, totalmente, que o senhor doutor que me operou era muito bom no ponto de cruz e a fisioterapeuta que me acompanhou uma mestra na arte de motivar, torcer, dobrar, puxar e outras coisas mais ou menos dolorosas mas que resultaram imenso.

Um dia feliz foi aquele em que me sentei no meu carro, dentro da garagem, e comecei a experimentar pôr as mudanças. Confesso que não foi a experiência mais fácil ou agradável da minha vida, mas eu tinha tanta vontade de recuperar a minha independência…

E reconquistei-a, devagarinho, um passo de cada vez. Actualmente já quase nem me lembro de ter partido o pulso e sou, como me dizem na clínica de fisioterapia, “um caso de estudo”, porque não tenho qualquer tipo de dor e nem as mudanças de temperatura sinto. Yeah!!!

Voltando à dependência, o meu pai viu-se forçado a deixar de conduzir, o que lhe reduz, e muito, a sua independência. O carro servia para ir às compras com a minha mãe, mas muito especialmente, para as viagens que fazia entre Alverca e o Alentejo, onde nascemos e onde ainda temos a maior parte da nossa família e uma casa.

Tenho ido levá-los e busca-los, mas eu sei que não é a mesma coisa. O ideal é a pessoa poder fazer as coisas ao seu ritmo e quando quer e não sentir que depende sempre da boa vontade ou disponibilidade de alguém, mesmo que esse alguém seja a filha.

No outro dia voltou a falar-me no assunto do carro “se calhar vou renovar a carta outra vez, ando a ver melhor desde a operação…”. À espera de uma reacção minha, que sou intempestiva e meio agressiva quando fico preocupada.

“Você é que sabe, se sente que é capaz de voltar a conduzir…”, respondi-lhe. Sei que não foi a resposta que queria ouvir, mas juro que também não foi a que lhe queria ter dado, essa seria uma negativa absoluta e definitiva. Aflige-me muito pensar nele ao volante de um carro. Mas tive tanta pena dele, da necessidade absoluta que tem de voltar a sentir que tem o controlo da sua vida e das suas movimentações…

Nascemos dependentes e morremos dependentes. A única diferença é que quando nascemos a dependência é do colo da nossa mãe e quando morremos é da boa vontade de quem estiver à nossa volta. E se quem estiver à nossa volta não tiver essa boa vontade? Se quem estiver connosco tiver mais que fazer? Se simplesmente não quiser saber?

A dependência assusta-me. Cada vez mais.

As minhas bonecas de papel

Guardava-as no fundo do roupeiro, dentro de um baú de folha marroquino, bem fechadinho com um cadeado, cuja chave andava sempre comigo. As minhas bonecas de papel.

Eu teria uns oito anos quando a minha mãe decidiu que já era demasiado crescida para brincar com bonecas… Por isso, dentro do quarto ficaram apenas as bonecas grandes, de decoração e aquelas com que eu brincava saíram para casa de outras meninas, algumas mais velhas que eu, mas cujas mães não se importavam de ter filhas que fossem crianças. Eu, não. Eu já era crescida, já tinha idade para aprender outras coisas mais úteis. E aprendi. Aprendi a limpar a casa, a passar a ferro, a estender roupa, a cozinhar, quer dizer, cozinhar já cozinhava há algum tempo, mas aperfeiçoei e comecei a tomar muitas vezes a responsabilidade do jantar da família.

Aprendi tudo que me quiseram ensinar. Aprendi a bordar, a tricotar, a fazer crochet, a pregar botões, a coser baínhas… Foi uma fase muito produtiva em matéria de aprendizagem.

Mas o meu coração continuava a ser de criança e por isso, bem escondidas no fundinho do meu roupeiro viviam as minhas bonecas de papel. Tinha várias e cada uma delas tinha um guarda-roupa muito completo. Tudo feito por mim, desde as bonecas, bem desenhadas e cheias de curvas, cuidadosamente coladas em cartolina, para serem mais resistentes, até às suas roupas, de verão, de inverno, de cerimónia, informais… Tudo muito bem desenhadinho, recortado e cuidadosamente pintado a lápis de cor, também muito bem arrumadinhos no fundo do roupeiro.

Quando a minha mãe trabalhava, na sua sala de costura, eu voltava silenciosamente a ser criança. E aproveitava religiosamente todos os minutos para brincar, vestir e despir as minhas preciosas bonecas, sempre muito atenta ao ruído da porta que indicava a presença da minha mãe. Era o momento de arrumar tudo rapidamente, voltar a pôr o baú no fundinho do roupeiro, colocar cuidadosamente as almofadas da cama por cima do baú, pegar num livro e sentar-me sossegada na cama a ler, uma actividade que sempre me fez muita companhia.

A minha mãe, apesar de se julgar muito esperta, nunca as descobriu, às minhas preciosas bonecas de papel. Continuei a brincar com elas até perto dos meus 11/12 anos, altura em que passei a ser mais fã de música, a ler cada vez mais, a cozinhar cada vez mais e a deixar de ter tanto tempo para elas. Ainda as mantive durante mais uns anos, tranquilas e felizes no seu baú, até que as substituí por um diário que me guardou tantas vivências, sentimentos, alegrias e mágoas durante toda a minha adolescência.

No outro dia, numa visita a um chinês, encontrei alguns livros com bonecas de papel e as suas respectivas roupas e relembrei as horas felizes a vestir e a despir, a desenhar, pintar e recortar. Relembrei a adrenalina de esconder tudo em questão de segundos ao menor ruído.

Estive quase, quase a comprar um dos livrinhos, só para recordar.

Tenho duas filhas, que brincaram até o desejarem com infinitas bonecas que viviam nos seus quartos, que ajudei a vestir e a despir vezes sem conta e a quem nunca disse que eram demasiado crescidas para o fazer. Na verdade até acho que os miúdos hoje em dia são crianças durante muito pouco tempo. É-lhes exigido tanto, tão cedo.

E é tão bom ser criança. É tão bom mantermos uma criança bem viva e feliz dentro de nós. E é tão importante termos essa capacidade.

A minha primeira morte

A minha avó ficou paraplégica muito nova, quando as minhas tias Emília e Isabel, era ainda miúdas, vítima de uma doença que nunca ninguém me soube explicar bem qual era. Ficou, não agarrada a uma cadeira de rodas, que o dinheiro não dava para tanto e nessa altura não havia estado social, mas a uma cadeirinha que o meu avô adaptou para ela e onde sempre me lembro de a ver quando ia ao Alentejo. Desde miúda sempre me disseram que eu tinha algumas coisas da minha avó Cecília (o nome que a minha mãe queria que eu tivesse e que o meu pai não deixou), coisa que sempre me deixou orgulhosa. Lembro-me de me sentarem ao colo dela e de ela me contar histórias, da sua infância, da infância dos meus tios, tias e da minha mãe, histórias de vida e com vida. Dessas histórias já não me lembro. Só me lembro dela e lembro-me sempre com muito carinho e com muita saudade. Eu teria uns quatro anos. Alguém foi lá a casa dar notícia de que a minha avó Cecília, a mãe da minha mãe estava a morrer. Nessa altura não havia a facilidade do telefone, era rara a casa que o tinha, a esse aparelho mágico que mudou a nossa vida e que passou a andar nos bolsos de todos nós. O meu padrinho ainda morava connosco, era solteiro, só mudou para a casa dele depois de casar. Fomos os três de comboio direitos a Castelo de Vide, a minha mãe, o meu padrinho Eusébio e eu, quatro anos de gente, com uma ideia muito vaga, mas mesmo muito vaga da morte. Que as pessoas iam para o céu, era o que me diziam, para junto do menino Jesus. Chegámos a casa do meu avô, o meu querido avô Álvaro, ainda a minha avó estava viva. Pediu para falar comigo e houve ali um sururu entre a minha mãe e as minhas tias e tios. Afinal eu só tinha quatro anos. Na altura não percebi o porquê de tanto alarido, era a minha avó que queria falar comigo. Qual era o problema? Entrei no quarto da minha avó e lembro-me da imagem dela deitada na cama antiga de ferro que, na altura, me parecia quase um arranha-céus de tão mínima que eu era. Alguém me ajudou a subir para a cama, dei um beijo à minha avó, senti a sua pele macia, de que ainda hoje guardo a recordação. A minha avó tinha uma missão para me confiar: “Filha, a avó vai morrer, tenho que te pedir uma coisa, para tomares conta do teu padrinho. Não o deixes voltar a entrar nas touradas, filha. Prometes que tomas conta dele?”. Claro que o prometi e senti logo ali que a morte era muito mais do que ir para o céu para o pé do menino Jesus, havia ali uma finitude que ninguém me queria esclarecer. A minha avó chamou o meu padrinho Eusébio e deu-lhe conhecimento da promessa que eu lhe tinha feito e ele aceitou ajudar-me a cumpri-la. E cumprimo-la, os dois, a pedido de uma das pessoas mais importantes das nossas vidas. O meu padrinho só voltou a entrar numa arena para retirar um amigo, colhido por um vitelo numa garraiada. Mas por ele, para ser ele a enfrentar o touro, nunca mais. A minha avó pediu-me um último beijo, foi mesmo o último… Voltei a sentir, pela última vez a sua pele macia, a carícia da sua mão na minha cara e vi pela última vez o rosto bonito da minha avó, de quem dizem que herdei os olhos verdes e as mãos compridas de unhas redondas. A morte da minha avó deu-se logo a seguir a este episódio. Hoje tenho a certeza que ela estava à minha espera, à espera de se despedir de mim, de me confiar a missão de cuidar do seu filho mais “maluco” para morrer. Mesmo que não seja verdade é nisso que quero acreditar. Como quero acreditar que morreu em paz, confiante que eu cumpriria a sua última vontade. Eu não acredito na vida depois da morte, nem nada dessas coisas, mas juro, que nos piores dias e nas piores noites, tenho a sensação do toque da mão da minha avó na minha cara. A maciez da sua pele volta a tocar-me e a dar-me o conforto que muitas vezes os vivos não me conseguem dar. Eu tinha quatro anos quando percebi que as pessoas quando morrem não vão para o céu, nem para ao pé do menino Jesus, não vão para lado nenhum, na verdade, continuam dentro de nós, nos nossos corações durante toda a nossa vida. Tenho 50 anos e há 46 que tenho a minha avó Cecília viva no meu coração e por cá continuará enquanto eu for viva.

A E. L. James é uma aldrabona do pior

Vamos lá então falar do novo livro de E.L. James - a suposta perspectiva da história “50 Sombras de Grey” do lado do sedutor e “dark” Mr. Grey.

Comecemos pelo facto de eu não gostar mesmo nadinha de me sentir enganada. E senti-me bastante depois de ler a porcaria do livrinho. Que não é bem um livrinho, são 595 páginas de “mais do mesmo”.

Ora bem, a senhora James parece-me ser uma mulherzinha muito esperta. Com aquele tipo de “esperteza saloia” que me irrita bastante. Ai e tal, toda a gente quer conhecer a história da perspectiva do Christian Grey? Ok, eu dou-vos a conhecer a história da perspectiva do homem. E deu… Quer dizer, mais ou menos...

E como? Ah pois, aí é que a coisa se torna mas negra… Perceberam os trocadilho?

Então ela pegou no primeiro volume da trilogia e limitou-se a reescrevê-lo na voz do Christian. Nem mais nem menos. Mentira, com mais 48 páginas do que o primeiro livro. Mas de resto, é igualzinho. Toda a transcrição da troca de mails, a minuta do contrato submissa/dominador, enfim, é igual.

Ou seja, é um engodo. Já nem falo da qualidade da escrita ou seja do que for a esse nível. Mas voltar a levar com a primeira vez da Anastasia, com o cerco que o Grey lhe fez, etc, etc, é um bocadinho de mais, não lhe parece senhora James?

Podia ter sido pelo menos um bocadinho original ter disfarçado, sei lá, qualquer coisa que levasse a que uma pessoa não tive vontade de ir devolver a porcaria do livro à loja.

É publicidade enganadora, senhoras. Não vale de todo a pena comprar. Mesmo.

Nada neste novo livro acrescenta seja lá o que for que já não soubessemos sobre Grey. 

 

Antiguidades, ternura, tias e marmelada

Gosto tanto de ser antiga. Gosto mesmo. Não é raro o meu marido virar-se para mim e dizer-me: “És muito antiga”. E ri-se no gozo comigo e com as minhas antiguidades.

Ele tem razão, eu sou mesmo antiga. Em muitas coisas. Nas canções, que gosto de ouvir e que me recordam um tempo em que eu ainda nem tinha nascido, na forma como faço a comida e como a tempero e naquela mania, muito minha, de fazer as minhas polpas de tomate, o tomate seco, as compotas, os doces e as marmeladas. Já para não falar dos bolos, dos biscoitos, enfim, de quase tudo.

É como eu costumo dizer: “Odeio comida pré-fabricada”. É que odeio mesmo. Sempre achei tão interessante ser eu a produzir os bolinhos de aniversário, os biscoitinhos, as bolachinhas de chocolate, os rissóis, os croquetes, o folar da Páscoa, os docinhos todos do Natal, tudo, tudo…

Adoro quando tenho pretexto para ir para a cozinha e ficar por lá horas a fio, às vezes dias, a produzir coisas, a confecionar petisquinhos e coisinhas e sentir à porta da minha casa o cheiro a antigamente.

Sabem aquele cheirinho da casa da avó? No meu caso era mais das tias, porque uma das minhas avós morreu quando eu tinha 4 anos e a outra nunca foi uma pessoa de quem fosse muito próxima. Mas as minhas tias, em especial a minha tia Matilde fez o favor de me deixar essa lembrança na memória.

Sempre que chegava a casa da minha tia começava por beber água no púcaro de alumínio que estava pendurado no quintal na torneira por cima do tanque de lavar a roupa. A melhor água do mundo, garanto. Um sabor especial o daquele púcaro. Não sei se ainda por lá anda…

E depois avançava para a cozinha da minha tia, uma cozinha com uma lareira alentejana onde o lume ardia e deitava calor a uma panela de barro assente em cima de uma trempe, onde fervilhavam feijões, couves, batatas, uma sopa com o melhor saborzinho do mundo, de que ainda hoje guardo o cheiro e o carinho com que era feita.

Também na casa da minha tia comi o melhor queijo fresco do mundo, apertado no cincho pelas mãos da minha tia que nunca pintou as unhas nem foi à manicure mas que tinha e continua a ter, certamente, das mãos mais bonitas do mundo.

Foi com ela que passei algumas das melhores tardes de verão, a brincar com pequenas forminhas em alumínio, julgo que da minha prima, a sentir cheiros e a comer coisas boas que guardei até hoje no coração.

Obrigada, tia Matilde (ti’à Matilde, como se diz na minha terra) por ter contribuído de forma tão decisiva para o meu stock de memórias boas. Guardo-as a todas com muito carinho.

Tenho mais tias, a minha querida tia Ana, que eu adoro, a minha madrinha Emília, que adoro também, a minha tia Isabel, a mais nova da ninhada e querida, querida, já para não falar que faz as melhores empadas de galinha do mundo e arredores, e ainda as tias adotadas, como a tia Laurinda e a minha madrinha Benvinda, e todas elas me mimaram quando era miúda, sempre que me apanhavam a jeito. Em casa de todas me senti sempre amada e mimada, muitas vezes até mais do que na minha e a todas agradeço por terem contribuído para me tornarem uma pessoa melhor e com muita bagagem boa dentro de mim.

Uma bagagem que tem sido tão importante e fundamental para manter a sanidade em algumas alturas da minha vida. Estou distante de todas, quase não as vejo, mas guardo-as no meu coração com a ternura que elas me transmitiram em criança.

 

Do baú das conversas com as minhas filhas

No outro dia em conversa com uma amiga que se queixava das coisas “más” que a filha de quatro anos e meio lhe diz quando se chateia com ela ou quando tem de lhe impor regras, lembrei-me de um dos muitos momentos com a minha filha mais velha.

Dizia-me a minha amiga que no auge de uma birra a filha lhe disse: “Qualquer dia vou-me embora desta casa”. E eu lembrei-me.

Estávamos a ter uma discussão, eu e a Sara, não me lembro sobre o quê, quando a pirralha, para aí com uns três anos se virou para mim, toda decidida e diz: “Quero-me ir embora desta casa”.

“Queres? Está bem. Anda lá que eu ajudo-te a fazer a mala. Vais para onde?”, perguntei-lhe.

“Vou para casa da avó”, que morava no andar de baixo, respondeu, toda cheia de estilo.

“Não, para casa da avó não pode ser, que a avó não pode ficar lá contigo, tens de ir para outro sítio qualquer”, fui-lhe dizendo enquanto lhe metia umas roupas numa mochila.

Abri-lhe a porta, dei-lhe a mochila e um beijinho e fiquei a vê-la a descer a escada, a olhar por cima do ombro para ver se eu a estava a ver ou se ia atrás dela. Fui-lhe dizendo adeus e quando ela acabou de descer a escada desci também para ver até onde ela ia. Ainda pôs a mão no puxador do portão para o abrir, mas depois começou a vacilar, sentou-se no degrau a fazer beicinho, com ar de quem não sabia muito bem o que fazer à vida.

Cheguei ao pé dela e disse-lhe: “Então não ias embora?”.

Pensam que ela deu o bracinho a torcer? Nem pensar nisso ou não fosse ela minha filha: “Acho que vou só amanhã. Esqueci-me de umas coisas…”.

Voltámos para casa, desfizemos a mochila e nunca mais falámos no assunto, mas também nunca mais me ameaçou que fugia de casa. Deve ter ficado a pensar no caso.

  

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