A Chanel da blogger
Começo a acreditar que existem pessoas que quando nascem têm o destino traçado na palma da mão (onde é que eu já ouvi isto?). Ou, no caso da Pépa Xavier, nas linhas com que se costura uma Chanel Flap Bag.
Coitada da miúda, estava a divertir-se a gravar um vídeo, debitou ali de repente doze desejos, entre os quais o de ter uma Chanel, compradinha por ela com umas poupanças que anda a juntar. Qual é o mal? Ainda por cima se pensarmos que a malinha pode custar à volta dos dois mil e tal, três mil euros e ela admitiu na televisão que ganha setecentos euros. Vai ter de deixar de comer para comprar a malinha. Ai vai, vai...
Eu cá, pela parte que me toca também não me importava nada de ter uma. A Pépa tem razão. Fica bem com tudo, é um clássico, assim como ter um daqueles carros que não dão mais de 50km/hora, mas que toda a gente adorava ter.
Alguns querem os carros, a Pépa quer a Chanel.
E daí?
Eu entre um carro que dá 50km/hora e uma Chanel também preferia a Chanel, olha agora.
Primeiro porque a 50 nunca mais chegava a lado nenhum e eu sou uma acelera do pior e depois porque de facto uma Chanel pendurada no bracinho de uma pessoa dá logo outro estilo.
Ai e tal porque é uma futilidade.
E?
Qual é o problema de uma pessoa também sonhar com futilidades? A vida não é só feita de coisas de coisas sérias. Há quem sonhe com o Sporting campeão. E há quem sonhe com malinhas da Chanel. O grau de futilidade não me parece assim tão diferente. Embora talvez seja mais fácil conseguir a Chanel, digo eu, claro. Mas eu não percebo nadinha de futebol, por isso não se preocupem.
Francamente achei um exagero a polémica que se criou em torno do vídeo e muito mais exagero achei o facto de a Samsung ter retirado o vídeo. A sério? Uma empresa do nível da Samsung acha que uma pseudo tia (ela tem uma voz assim a modos que para o irritante, por isso não acredito que seja tia a sério), que quer uma Chanel lhe pode prejudicar a imagem?
Estou prestes a trocar o meu telefone por outra marca menos preconceituosa.
Deixem lá a Pépa em paz.
Ela não desejou a paz no mundo. Ah, que escândalo! Sim porque se ela a desejasse de certeza que amanhã já não havia guerras.
Ela não desejou o fim da fome no mundo.
Uma atrocidade. Se desejasse já não haveria fome neste altura, de certeza absoluta.
Não desejou que acabasse o Inverno. Isso já acho mais grave. Uma pessoa normal deve sempre desejar o fim do Inverno. É uma estação chata com frio e chuva e casacos e botas e camisolas e coisas de que eu, pessoalmente, não gosto mesmo nada.
Desejou uma mala Chanel.
Uma vergonha! Um escândalo! Uma futilidade!
Deixem-se de tretas e hipocrisias. Não conheço nenhuma mulher digna desse nome que não gostasse de ter uma, excepto as que já a têm, claro. E mesmo essas...
Mas que raio. Se uma mulher não tiver um grãozinho de futilidade dentro dela transforma-se de repente num homem.
Não estou a defender, nem a afirmar que as mulheres são seres fúteis. Mas a futilidade faz parte do ser humano.
As mulheres, pelo menos as normais, gostam de roupa, de sapatos, de malas, de maquilhagem, de sapatos, e de muitas outras coisas afins.
Podem não estar nas suas listas de prioridades, mas gostam.
Eu não me considero uma pessoa fútil e gosto muito de todas estas coisas.
E os homens também são fúteis.
Gostam de futebol, de gajas nuas, de filmes de ação, de beber cerveja (pronto, eu também gosto, da cerveja, não das gajas nuas (não gosto nada da palavra gajas)), e de coisas que também não vão acabar com a guerra nem com a fome no mundo.
Eu estou com a Pépa. E só por causa disso acabei de comer uma décima terceira passa e pedi uma flap bag da Chanel. Pronto, está feito. Agora já somos duas assumidas a desejar uma Chanel em 2013.
Estou solidária e assumo a minha futilidade. Infelizmente como não sou uma blogger famosa não me vão convidar para ir à televisão explicar porque é que eu peço uma mala em vez da paz mundial.
Isso é que é uma pena.
Mas pode ser que o meu desejo se concretize.
Bom ano e... muitas Chanel para todas.