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Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Sobreviver aos saldos!

Especialmente quando se têm em casa duas adolescentes meio loucas que até já me informaram da data de início dos mesmos. A sério que já comecei a ter pesadelos com esta questão, mais ainda quando fui informada de que o Dolce Vita Tejo era o local eleito este ano para a maratona de saldos.

Eu, coitadinha de mim que já tenho uma certa idade e me canso facilmente já estou em estado catatónico só com a ideia dos empurrões, dos 'nunca há o meu número, tamanho, cor que eu preciso', filas nas caixas de pagamento, filas nos provadores, filas, filas, filas... Desculpem, mas não gosto da palavra bicha, acho depreciativa e feia. Bichas são aquelas coisas com que as nossas avós penduravam as cortinas nos postigos das janelas das portas das casas, que normalmente eram feitas em chita às florzinhas e franzidinhas, com ou sem folhinhos, dependendo do jeitinho de quem as confecionasse.

Posto isto, fiquem sabendo que, segundo a informação que a minha filha leu no Jornal de Negócios ou no Diário Económico, ou um do género que eu nem sabia que ela lia, mas ainda bem que lê, os saldos começam dia 29 de junho.

29 de junho é uma data a reter na memória. Se puder evite entrar num centro comercial. Se for como eu uma mãe de família com duas adolescentes a cargo tente minimizar os estragos. Como?

- Estabeleça um horário com as suas/seus consumidores. "Não posso chegar a casa depois das..."

- Não leve, sob pretexto nenhum o seu marido, eventualmente pai das crianças consigo. Adolescentes ou crianças já é mau, mas maridos nos saldos é mesmo coisa para uma pessoa tentar o suicídio.

- Estabeleça um limite de crédito por cabeça e não abra excepções, a não ser para si própria, mas tente que os seus acompanhantes não o percebam. Afinal você está a precisar de carinho consumista depois do que já sofreu atrás deles.

- Tente, vai ser difícil, mas não impossível, que façam listas daquilo que precisam e tente que as listas sejam seguidas. Funciona mais ou menos como a lista do supermercado, só que com camisas e calções no lugar das bolachas e das cenouras.

- Se achar que a coisa se está a tornar demasiado dolorosa puxe da sua veia de atriz, não diga que não tem nenhuma, todas as mulheres têm uma atriz dentro de si, e invente uma das suas famosas enxaquecas, retire-se para o carro com uma garrafa de água e um comprimido e deixe-as à solta mas nunca com muita liquidez. Só a suficiente para não lhe darem uma seca de 3 horas.

- Finalmente, no dia a seguir invente um compromisso, uma consulta médica, um almoço com uma amiga e escape-se desavergonhadamente para o seu centro comercial preferido e usufrua dos saldos. Experimente tudo o que lhe apetecer e compre o que lhe der na gana. Sem pressões nem olhos censuradores a criticar o seu excesso contra o suposto defeito delas (as suas crias, claro).

Posto isto vou-me confessar: eu adoro os saldos. É a palavra que consigo identificar em mais línguas e das que gosto bastante de ver nas montras seja lá onde for, desde que eu possa pelo menos comprar um topezinho ou um vestidinho, ou qualquer coisinha para fazer o gostinho aos quatro digitos do cartão.

O meu marido, que já me conhece para lá de bem, sempre que vê a palavrinha mágica numa montra, adopta a sua filosofia de vida mais inteligente.

- Querida, vou ali beber uma cervejinha, enquanto tu dás uma voltinha nas lojas.

Tão espertinho que ele é. Sempre que ele diz isto sinto-me orgulhosa da educação que tenho dado ao longo destes anos. É o único marido que quando ouve a célebre frase: "Não tenho nada para vestir", diante de um roupeiro a abarrotar de roupa, não se vira e responde: "Não tens como? O roupeiro parece que vai rebentar".

O meu, roam-se de inveja, vira-se para mim e diz: "Tadinha, tens que tirar uma tarde para ir fazer umas comprinhas".

É maravilhoso. Um dos segredos da nossa boa relação, esta forma que ele tem de me perceber no mais profundo do meu ser. A parte consumista, que tem vindo a melhorar ao longo dos tempos, sim que a crise afecta-nos a todos. Infelizmente.

Eu até tenho uma desculpa. Como não gosto de chocolate, o meu escape não pode ser devotrar uma caixa de bombons. Tenho mesmo de ir às compras, querem que faça o quê?

Não se esqueçam e anotem nas vossas agenda, telemóveis, ipads, iphones e outros i's - 29 de junho começam os SALDOS!

Cláudio Ramos e as vírgulas

Afinal descobri que não sou só eu que tenho um problema de vírgulas. O Cláudio Ramos tem um problema bem maior que o meu. Ora vejam, ou melhor leiam: “Eu gosto, muito desta miúda, por isso, vamos todos ajudar a que realize o sonho de ser um VJ na MTV. Bora? É só meter um gosto e o assunto está arruado ;)”, li hoje de manhã no mural do Facebook do próprio.

Até eu que tenho um trauma imenso com as vírgulas e uma séria dificuldade com a sua colocação me apercebi logo de que havia aqui um problema ainda mais grave do que o meu. Então escreve-se: eu gosto, muito desta miúda, por isso, vamos…?

Pois, não me parece. Na minha perspetiva existem pelo menos duas vírgulas a mais nesta frase, já para não falar de que arruado não é, que eu saiba, sinónimo de arrumado, mas pronto, isso até percebo, a pessoa está com pressa e lá escapa um dedo.

O grave de tudo isto, ou melhor não é grave para mim, mas sim para quem paga o ordenado a este senhor, é que o personagem em questão escreve semanalmente duas páginas numa conhecida revista social e portanto tem responsabilidades públicas sempre que decide desabafar no Facebook ou noutro lado qualquer.

Mas mais grave foi que fiquei com imensa pena de quem lhe “deska” os textos, que é como quem diz, quem lhe põe as vírgulas nos sítios certos. O mesmo sentimento que eu tenho em relação ao desgraçado do meu diretor que, aposto o que quiserem, de cada vez que abre um texto meu deve puxar pelos poucos cabelos que lhe restam e até é uma pessoa muito paciente, porque sempre que falamos sobre o assunto ele me diz: “Estás muito melhor”. Coisa que eu duvido que seja verdade mas aprecio o esforço dele para me animar.

O senhor Cláudio tem para além da responsabilidade de escrever num órgão de comunicação um problema de ego, basta lermos as suas crónicas semanais para nos apercebermos disso. Considera-se uma pessoa culta e como tal não pode de maneira nenhuma cometer este tipo de erros.

Conselhos: Tenho um, que é o mesmo que dou a mim mesma, regressar à primária e aprender de raiz onde e quando se colocam vírgulas numa frase. Ainda não aconteceu porque, por muito que procure, ainda não encontrei uma escola que me aceite.

Por isso vou tentando. Espero que não tenha falhado muitas neste texto. Vírgulas, claro.

Da minha infância...

A minha infância está intrinsecamente ligada ao Alentejo. Filha única vivia completamente isolada do mundo e só no Verão na casa do meu avô soltava a franga. E de que maneira.
O meu primo Z. e a irmã dele, a P., foram o que de mais próximo tive de dois irmãos, ou pelo menos era assim que olhava para eles.
Os três éramos inseparáveis nas brincadeiras e muito especialmente nas asneiras. Segundo o meu pai, só tinhamos ideias de gente parva. Ah pois tínhamos e muitas. Éramos garotos, adorávamos andar à solta e o Verão era o tempo em que tudo era permitido.
Ou pelo menos na casa do meu avô tudo era permitido, porque ele achava que "os gaiatos têm que se entreter" e portanto nós aproveitávamos e entretíamo-nos.
Na casa do avô existia uma burra que o meu primo muito simpaticamente batizou de Esquisita, em homenagem a mim.
Sempre tive uma certa fama...
Na verdade não sou esquisita, talvez especial, mas o meu primo referia-se mais especificamente à comida.
Analisando as coisas do ponto de vista de uma pessoa de 46 anos, eu diria que o esquisito era ele, que só gostava de batatas fritas, ovos estrelados e salsichas. Já eu só não como feijão frade, caril e chocolate.
Na casa do avô as batatas eram fritas em azeite e o azeite da altura era pesado, verde, grosso, em resumo nojento. As batatas era intragáveis, pelo menos para mim, que ainda por cima sou um bocado alérgica às gorduras ainda hoje.
A minha alcunha veio daí, eu era esquisita porque não gostava de batatas fritas em azeite, mas em contrapartida comia peixe grelhado ou cozido, legumes, sopa, enfim... já o meu primo nem por isso. E não sei se agora come. E já tem 50 anos.
Estão a ver o género?
Voltando à burra... A Esquisita era um animal muito manso, cinzento clarinho, ou pelo menos é assim que me lembro dela. Quando sentíamos o meu avô chegar íamos a correr para fazer o caminho até casa montados na Esquisita.
Era o nosso meio de transporte até à Ribeira de S. João ou à outra de que não me lembro o nome. O meu avô punha-nos lá em cima e lá íamos a balançar para um dia de pesca e de aventura. Perdi o conto às nodoas negras e às esfoladelas que fiz nos canchos (são pedras que nascem do chão e não sei explicar melhor), que estavam
escorregadias e que pregaram comigo na água vezes sem conta.

Na caso do avô não havia luz e por isso depois de jantar tínhamos que puxar pela imaginação para passar o serão.
Eu e os meus primos ensaiávamos teatros, concertos... Eu canto tão mal, que até tenho pena dos meus tios que tiveram de me aturar, mas também era a única que sabia as letras. Ainda me lembro de L'oiseaux et l'enfant, acho que é assim que se escreve, de Marie Myriam, que ganhou um festival da eurovisão e que eu sabia na ponta da língua, entre muitas outras.
Vestia o vestido de noiva da minha mãe, que andava por lá a rebolar, o meu primo fazia de conta que tocava viola, a irmã dele acompanhava no coro e pronto, tínhamos a família entretida durante o serão.
E sabem o melhor? Éramos pagos. O meu avô dava o exemplo e puxava da carteira para dar tipo 5 escudos a cada um, devem ser para aí dois cêntimos e claro, o resto da família tinha que participar.
No fim do verão se não tívessemos o péssimo hábito de ir à aldeia à tasca do Sr. João, no Castelo comprar rebuçados de osso (não eram mesmo de osso, eram de açucar puro e em feitio de osso, credo vocês pensam logo no pior),  estávamos ricos. Nunca ficámos, claro. Os gelados, os rebuçados, as batatas fritas e outros afins eram demasiado apelativos para nós.
Havia tão poucos carros que mesmo miúdos escapavamos sozinhos para a aldeia para ir às compras. Sem medos, toda a gente sabia que éramos netos do Ti Zé Álvaro e pelo menos os meus primos que passavam lá mais tempo conheciam toda a gente. Eu era a esquisita que ia de Lisboa. Enfim...
Das primeiras recordações que tenho da casa do meu avô está a morte da minha avó Cecília. Eu tinha quatro anos e lembro-me que fui com a minha mãe e o meu padrinho de comboio e ainda chegámos a tempo de ver a avó Cecília viva.
A avó estava paraplégica já há muito tempo, nunca consegui perceber porquê, mas é uma doença que tem a ver com o reumático. Costumavam sentar-me no colo dela e ela contava-me histórias. Era muito doce a avó Cecília. Dizem que herdei dela os olhos verdes, as mãos compridas e fininhas e as unhas redondas e bonitas. São
três coisas de que tenho muito orgulho, tal como a bolinha no nariz que herdei do avó Álvaro. É uma bolinha muito especial, afinal o meu avô tinha uma igual.

Quando chegámos a avó pediu para falar comigo. Queria pedir-me para tomar conta do meu padrinho que andava sempre todo partido porque se metia nas garraiadas e já tinha idade para ter juízo.
Ainda me lembro: Filha, toma conta do teu padrinho, não o deixes mais meter-se nas touradas. Não te esqueças.
Não me esqueci avó e tomei conta, ele nunca mais entrou numa tourada, excepto para ajudar um amigo, colhido por um touro. Eu prometi e cumpri. Era incapaz de me esquecer do teu pedido, como fui incapaz de me esquecer de ti. E acredites ou não tenho saudades tuas avó. Fizeste-me a mim e a todos na família muita falta.
Especialmente ao avô, mas espero que agora estejam de novo juntos.

O avô morreu quando eu tinha doze anos, por altura da Páscoa. Lembro-me de um dia muito chuvoso em que apareceu uma prima da minha mãe para nos dar a notícia. Nessa altura quase ninguém tinha telefone. Fomos de carro para o Alentejo. Chorei o caminho todo e não consegui ver o avô no caixão. Prefiro lembrá-lo sentado na
pedra ao lado da casa a enrolar o seu cigarrinho e com a boina de borla pendurada.

O meu avô Zé Álvaro, que na verdade se chamava Zé António era um homem maravilhoso e lindo.
Tinha uns olhos azuis, era alto e elegante e até ao fim usou sempre os seus fatinhos de coletinho e jaquetinha, muitos de seborreco, que lhe ficavam tão bem.
Quando chegávamos cá abaixo à fonte Pales olhava para cima e invariavelmente o meu avô lá estava, sentado na sua pedrinha a enrolar o seu cigarrinho.
A sua morte foi prematura e deixou um buraco gigante na família. Do meu ponto de vista nunca mais recuperámos. Eu pelo menos não recuperei.
Tinha uma verdadeira adoração pelo meu avô e ainda tenho. A saudade que a morte dele me deixou acompanhou-me desde então e já faz parte de mim. Acho que vou morrer com ela.
Só voltei a casa do meu avô depois da morte dele há dois anos, no Verão. Os meus tios organizaram um almoço de família e resolveram fazê-lo lá.
Acreditem ou não estive longos minutos no carro a soluçar e a tremer sem conseguir sair. Foi horrível.
Quando finalmente consegui sair do carro e entrei em casa dei de caras com uma fotografia do meu avô e da minha avó na parede em frente à porta e desabei completamente. Nunca mais me apanham. Aquela casa era o meu avô. Sem ele prefiro ignorá-la. E eu nasci lá.
Não sou pessoa de ir ao cemitério e francamente nem sei em que data ele morreu. Nem me interessa. Lembro-me dele todos os dias, tenho saudades dele todos os dias mas de alguma forma sinto que o meu avô não me abandonou. Eu sei que é estranho, mas às vezes sinto como que uma carícia no rosto e não me perguntem porquê mas quero acreditar que seja o avô Álvaro.
Era um homem bom, muito bom, amigo do seu amigo, dos filhos, dos netos e de um copinho...
"Filhas, já venho bêbado", dizia às vezes ao fim da tarde quando chegava a casa. E era dia de histórias e canções. O avô contava coisas da sua infância e cantáva-nos canções do tempo dele. "Sete peixinhos, sete peixinhos, fui eu que os vi a nadar...".
Obrigada avô, por teres feito parte tão integrante e forte da minha vida. Por teres sido e continuares a ser um modelo.
Amo-te muito!

Ainda a seleção!

(publicado originalmente a 5 de junho), é bom esclarecer que entretanto Portugal passou aos quartos de final, e o Ronaldo passou de besta a bestial em dois golos.

Depois do meu último post tive mais uma linda surpresa no que toca ao alojamento dos "vinte e três magníficos", (só a expressão já me dá ânsias, que na minha terra é o equivalente a comichões).
Numa revista que vi hoje de manhã está a lista das seleções mais gastadoras. Adivinhem lá quem são os primeiros?
Os Tugas, claro, com os tais 33 mil euros diários. Somos seguidos pela Rússia, 30 mil euros diários, Polónia, 24 mil, Irlanda, 23 mil e Alemanha 22 mil.

Eu não quero ser intriguista, mas a verdade é que a Rússia podia de certeza absoluta pagar com muito mais facilidade um hotel mais caro, mas pronto.
Imaginem lá que o Europeu dura um mês - vamos gastar para aí um milhão de euros com estes fulanos - é
inadmissível. A mim ainda nem me reembolsaram o IRS.

Já era de esperar, nem posso dizer que fiquei surpreendida. Os portugueses nestas coisas é sempre tudo em grande, que é para os desgostos serem ainda maiores, quando as coisas correm mal, que
como já estamos habituados é o que acontece normalmente.

E só para que fique esclarecido eu até espero que Portugal vá, como é que se diz, longe no Europeu, mas são motivos mais pessoais que não vou revelar aqui... Se eu fosse figura pública, amanhã já havia manchetes escritas "Fulana de tal tem um caso com um jogador da seleçao", o que era no mínimo hilariante, por isso ainda bem que não sou.
Tive mais uma surpresa matinal, ou melhor duas.
A primeira é que finalmente descobri que tenho uma coisa em comum com Cavaco Silva, não somos fãs de alemães. O Senhor Presidente da República, que para mim já passou o prazo de validade há muito tempo, pediu aos jogadores para "neste momento difícil que Portugal atravessa", darem o seu melhor na sua prestação ao
longo do Europeu e, esta é a parte que temos em comum, muito especialmente no jogo contra a Alemanha, coisa que como agora sabemos eles resolveram não fazer.

Pois, percebe-se, ele quer vingar-se do estrago que a tia Merkel tem feito na moral lusitana. Acho muito bem.
Podemos perder a porcaria do mundial, perdão, Europeu, logo na primeira etapa, duvido que isto se diga assim, mas pelo menos vejam lá se nos dão o gostinho de ganharem aos estafermos dos alemães, de termos uma hipótese, umazinha que seja, de humilhar a tia Merkel e fazê-la meter a viola no saco. Ah ganda Cavaco, é assim mesmo, finalmente descobrimos em ti vestígios do gene humano que já duvidávamos que existisse. Sim, porque aquele homem parece um bocadinho alien, certo? Estou sempre à espera de o ver apontar para o céu e dizer: HOME!!!

Depois tive outra surpresa, que não foi propriamente uma surpresa, mas mais uma constatação, o Ronaldo é um grunho do pior.
Então o cachopo chega-se ao pé do Senhor Presidente da República Portuguesa (isto é escrito em tom irónico, não sei se já tinham percebido) e dá-lhe a bendita camisola das quinas e diz: "Gostávamos de convidar você a assistir a um jogo ao vivo". Mas será que ninguém foi capaz de lhe escrever duas frases e obrigá-lo a decorá-las e treinar com ele até à exaustão e poupá-lo a este tipo de figura?
Caramba, o rapaz tem dinheiro que nunca mais acaba, uma namorada gira, um filho de mãe icógnita, é filho da Dona Dolores (cá está outra vez o tom irónico) e não tem ninguém que seja capaz de olhar por ele? A Dona Dolores nestas coisas devia estar mais atenta... Está a falhar no seu papel de mãe. Estou inconsolável com isto (tom irónico).
Quer dizer, toda a gente de vez em quando dá as suas calinadas na língua portuguesa, agora um bocadinho mais brasileira que antes, mas na frente do Senhor Presidente da República (agora deram por isso?)?
Coitado, até tive pena dele, não que ele deva ter reparado na porcaria que disse, mas porque de certeza que no
Youtube (se aconteceu está no Youtube) o vídeo vai de certeza ter muitas visualizações - o dia em que o Ronaldo mostrou ao mundo que é um ignorante, apesar dos muitos milhões que ganha.

E note-se que eu não sou daquelas pessoas cínicas e muito mentirosas que dizem que não têm inveja do Ronaldo. Eu tenho e não é pouca. Não lhe invejo a Dona Dolores, nem as manas Aveiro, o cunhado, o filho de mãe icógnita, os guarda costas, o namorado da mãe, a própria namorada, enfim, nada  disso. O que eu invejo, mesmo a sério, é a continha bancária do cachopo, que me dava um jeito bestial.
Já me estou a ver com um cartãozinho de crédito a jeito a fazer tanta coisinha agradável. Pronto, eu sei, é mesmo pensamento de mulher. E então? Eu também nunca disse que era homem, pois não? Nem nunca fui daquelas que apregoam o feminismo e que acham que as mulheres deviam deixar de ser quem são. Tenham lá santa paciência. Eu gosto de ser mulher, gosto de ir às compras, gosto que me abram a portinha do carro e as portinhas por onde tenho de entrar, gosto de ser mimada e não tenho vergonha disso.
E também gosto de cozinhar, de fazer ponto de cruz, de fazer o jantar e isso não combina nada com a emancipação feminina, com a qual na melhor das hipóteses tenho em comum o ódio aos soutiens. Quem inventou estes coletes de forças devia ser morto e então quando falamos em push up, nem tenho palavras. Quem foi a besta que achou confortável puxar-nos a mamas até debaixo do queixo. Usar um push up é contra natura, mas eu uso que não sou menos que as outras, olha agora.
E gosto de trabalhar e de manter um bocadinho de independência mas ao mesmo tempo de me sentir segura numa relação.
Pronto está dito!
Afastei-me do objetivo deste post, como aliás já é costume, que era o regresso à seleção. Vou continuar a acompanhar a prestação dos "vinte e três magníficos" (lá está o tom) e vou dando conta das minhas impressões sobre o assunto.
Como diriam os brasileiros: "Me aguardem!"

Turquia 3 - Portugal 1

Esta coisa do futebol é das que mais confusões me faz, especialmente quando começo a pensar no dinheiro que gastamos com estes marmelos. Entretanto falei com um especialista do desporto rei e descobri que afinal isto tudo é bom para a economia do país, que é a Federação Portuguesa de futebol que paga tudo e ainda tem lucro com os jogos, ou com os golos, ou com as vitórias, ou eventualmente com tudo junto. Eu dois minutos depois de uma conversa sobre futebol começar já estou a divagar por outras paragens e vou acenando a cabeça e fazendo entendidos "hum, hums", mas na verdade já entrei em modo standby. Feitios, como diria o Raul Solnado.
Então a seleção vai custar qualquer coisa como 33 mil euros por dia, em hotel, massagens, comidas, transportes e sabe-se lá mais o quê...
Então os meninos estiveram em Óbidos muito bem instaladinhos, a viver à grande e à portuguesa (sim que já nem
os franceses se permitem a estas mordomias) e depois num joguinho da treta contra a Turquia não conseguem mais do que um miserável 3-1?

Que me desculpem os aficionados do desporto-rei, como lhe chamam, mas para mim esta treta da seleção é assim uma coisa ao nível dos funcionários públicos - fazem tanta falta como a peste negra. que me perdoem os meus amigos funcionários públicos. Gosto muito deles, mas cada vez que se queixam da vida, quando saem do trabalho às cinco e meia só me apetece bater-lhes. Feitios!
Senão vejam: a seleção está cheia de craques, Ronaldos e afins que jogam o ano todo nos clubes que lhes pagam uma fortuna para eles jogarem a sério e agora que acabaram as épocas eles querem o quê? Férias, claro, como qualquer pessoa normal e eu até acredito que lá bem no fundo, no fundo, eles sejam pessoas normais.
Vocês acham que o Ronaldo por muito que goste de andar aos pontapés à bola não preferia agora estar num iate de luxo, num sitio paradisíaco agarradinho à russa dele e a dourar ao sol, em vez de ter que vestir um equipamento (feio, por sinal, que me desculpe o autor ou autora do mesmo) e andar a cansar-se atrás da bola em nome do país?
Ponham-se no lugar dele e vejam lá o que preferiam? Francamente acho que até eu me agarrava à russa...
E os outros vão pelo mesmo caminho, todos eles têm namoradas, mulheres, etcs., com quem preferiam estar em vez de andarem a apanhar calor nos relvados.
Eu até sou bastante suspeita para me pronunciar sobre este assunto porque não gosto de futebol e portanto por mim, seja Portugal ou seja lá o que for não me parece que seja um assunto de interesse nacional, mas pronto...
Ainda há bocado ouvi na TVI a Fátima Lopes, a apresentadora, a dizer que o futebol pode ajudar a elevar a
moral do país, como, segundo ela, aconteceu em 2004 em que os portugueses se uniram todos em nome do orgulho e do amor à bandeira.

Eh pá, até fiquei um bocadinho ofendida. Queres ver que a outra acha que quem não gosta de futebol e não fica
de alma cheia por ver as pernas dos jogadores da seleção não tem amor à pátria nem à bandeira? Pronto a bandeira também não é lá muito bonita, mas é portuguesa e o símbolo da nação. Eu posso não ter orgulho do Coelho, nem do Cavaco, mas tenho orgulho no meu avô, no Camões, no Pessoa e até no Saramago, a quem já decidi dar uma segunda oportunidade.

E mais, eleva a moral do país ou distrai a atenção das pessoas dos verdadeiros problemas?
Quem não se lembra dos famosos três F's de Salazar: "Fado, Fátima e Futebol"? a maneira mais fácil de manter o rebanho ordeiro e tranquilo enquanto ele fazia o que queria, sendo que visto a esta distância nessa altura vivia-se mal, mas o país tinha dinheiro, construiam-se escolas e hospitais e o pão era considerado um bem de primeira necessidade. Já hoje...

Já para não falar que andámos estes anos todos a viver à conta do ouro que ele deixou nos cofres do estado, não que eu o defenda, não me comecem já a chamar fascista, se faz favor, que eu também tenho sentimentos e também me ofendo.

Pois eu, que por enquanto ainda não sei o que fiz ao meu filtro, acho que o futebol é uma seca e tenho a certeza de que já foi responsável por muitos divórcios. Mas quem é que raio tem pachorra para aturar jogos diários, às horas mais inacreditáveis e ter que levar com o barulho dos adeptos, dos jogadores, que ainda por cima cospem para o chão e sim já sei que parece que lhes faz falta, mas não deixa de ser nojento por isso e depois com o orgulho nacional de rastos quando eles voltarem todos de rabinho entre as pernas porque coitadinhos tiveram azar, o árbitro estava do lado dos outros, o não sei quantos estava desconcentrado porque a namorada estava a pressioná-lo para ir de férias, marcar a data do casamento...
Lembro-me de um Euro ou de um Mundial qualquer, acho que no México, mas não posso jurar, em que os jogadores portugueses andavam literalmente a chutar as chuteiras, passe o pleonasmo, no relvado. Isto depois de termos deslocado cozinheiros e ajudantes de cozinha, médicos e enfermeiros, provavelmente psicólogos e sabe Deus mais o quê para acompanhar a equipa das quinas.
Espero, muito sinceramente que o dinheiro destas tretas não venha dos nossos impostos, mas quase de certeza que vem, porque eu não me apetece pagar impostos para ver as pernas dos Ronaldos e amigos, que ainda por cima não são grande coisa. Pronto agora já sei que não vem.

Se eu tiver de pagar impostos para ver as pernas de alguém, e não me parece que eu pagasse para isso, já agora
dêem-me o direito de escolher as pernas que quero ver.

Resumindo: ainda a procissão vai no adro e não começaram os jogos a sério e para além de termos sido apurados à tangente para o tal do Euro já andamos a perder jogos. Com a Turquia. Por 3-1.
Eu encerro aqui a minha argumentação.
É que com esta crise o futebol já nem para o negócio da imperial e do tremoço dá jeito...
E mesmo que desse, eu já nem vendo imperial, nem tremoço...

Eu no supermercado

Leitura não aconselhada a pessoas sensíveis!

Hoje pensei assim cá para comigo: 'vou buscar um peixe para grelhar para o almoço', e por isso aí por volta do meio dia e qualquer coisa, saí de casa e fui ao supermercado que fica do outro lado da rua, tirei uma senhazinha e esperei pela minha vez em frente à bancada do peixe.
Até aqui tudo bem. Ao meu lado estava uma senhora de idade, que daqui em diante vou passar a designar por "velha", que pelos vistos nunca tinha ido ao supermercado e não sabe como funciona o sistema de senhas.
A senhora do peixe diz: '9', e eu 'sou eu', e a velha:' ai desculpe, mas eu já estava aqui antes de VOCÊ aqui chegar'.
E eu: ' e onde está a sua senha?'
E ela: 'Não tenho. Nem sabia que era preciso!'
E eu: 'Pois não tenho nada a ver com isso, eu sou o nove e quero carapaus, se faz favor'
E a velha: 'Que falta de respeito. Eu já tenho idade e estou cheia de pressa??!!! Não custava nada deixar-me aviar primeiro'
E eu: Pois eu também já tenho a minha certa idade e a coisa que mais me irrita é aturar madurezas de gente que
acha que a idade lhes dá estatuto para poderem fazer tudo o que querem. São três carapaus destes grandes se faz favor e uma pescada para cozer.

E a velha: Hoje em dia ninguém respeita os mais velhos. Esta juventude (eu tenho 46 anos, por amor de Deus, não
tenho 16) não quer saber dos velhos, não são capazes de facilitar um bocadinho... (Tenho que confessar que me senti um bocadinho lisongeada por ainda fazer parte da juventude, mas não muito, losongeada, quero dizer).

E eu: Olhe minha senhora, cada um tem os seus problemas, a senhora tem a idade e tem pressa, eu tenho a minha própria idade e de certeza muito mais pressa que a senhora. E já agora se não se importa pode parar com a conversa porque isso não vai levá-la a lado nenhum e eu não sou pessoa de me comover e digo-lhe já de caras que não gosto de velhos. Especialmente quando são abusadores como a senhora e fazem de conta que não sabem como funciona o supermercado e as senhas de vez...
E a velha: Eu juro que não sabia...
E eu, já irritada e capaz de a estrafegar: Que estranho, tendo em conta que eu a vejo por aqui de cada vez que
cá venho (Eu vou assim quase todos os dias a este supermercado comprar aquelas coisas, tipo pão, legumes, fruta...) e que já não é a primeira vez que tenta passar à minha frente. Olhe a última foi na caixa. Por isso e para a senhora não se humilhar mais pode ficar caladinha que fica muito mais bonita.

E a velha, já aos gritos: Que falta de respeito!!!
E eu, muito calma e com voz de tia: Quer um conselho? Tire uma senhazinha para o peixe que entretanto já há
mais umas 3 ou 4 pessoas à sua frente!

E entretanto o meu peixinho estava pronto e virei-lhe as costinhas e fui-me embora e achei na minha inocência que o assunto morria ali.
Pois acreditem que a senhora de idade, que estava com tanta pressa, andou atrás de mim pelo supermercado a
insultar-me, até que eu perdi a paciência, fiz sinal ao segurança, que é um senhor já de uma certa idade, amoroso, e disse-lhe simplesmente:

- Bom dia. Peço desculpa por estar a incomodá-lo, mas esta senhora está a insultar-me e a incomodar-me. Não se
importa?

E a senhora de idade, que pelos vistos já tem um vasto currículo nde cenas do género no supermercado saiu sem
peixe e sem almoço.

Bem feita.
A sério que esta gente me perturba.
Mas que raio de sina que eu tenho, que estas v... vêm sempre implicar comigo, que tenho pouca paciência para elas, não gosto delas, nem do cheiro a naftalina e tenho um pavio curtíssimo. e sim, eu sei que também vou ser velha e já nem falta tanto como isso, mas francamente espero ser um bocadinho mais inteligente.

Para a próxima vez já tomei uma decisão, vou presa mas aperto o pescoço à velha!
Está dito!
Espero que me deixem usar a internet da prisão para eu depois comunicar em que estabelecimento prisional
estou.

Eu não me meto com ninguém e respeito todas as pessoas até me pisarem os calos (que por acaso nem tenho), mas a falta de civismo das pessoas deixa-me completamente possuída e à beira da loucura. Acho que vou passar a levar o ferro de golfe para o supermercado!
Isso é que era!

Ai e tal... Tau! Ferro 7 na cabeça! Velha no chão! eu na prisão!!!!

Quantos são precisos?

Para pintar uma passadeira?
Descobri agora mesmo que são quatro. Na minha rua chegaram quatro senhores com coletes que dizem "Trânsito" e estão a preparar-se para pintar a passadeira da esquina. Descobri que são precisas quatro pessoas para pintar uma passadeira.
Um deles coloca os pinos a delimitar a zona, o segundo tem a responsabilidade da colocação dos sinais de
trânsito junto aos pinos, o terceiro está a varrer o pó da passadeira e o quarto, que por enquanto não está a fazer nada suponho que seja o pintor, até porque é o único que tem uma t-shirt branca vestida e não tem colete.

É giro, não é?
Especialmente para mim que sou alentejana e passei metade da minha vida a ouvir coisas do género: quantos alentejanos são precisos para mudar uma lâmpada?; quantos alentejanos são precisos para...?
Afinal descubro que para pintar uma passadeira são precisos quatro ribatejanos...
Esta conversa sobre os alentejanos, e embora não tenha nada a ver com passadeiras, lembrou-me um episódio memorável em rádio, mais concretamente na Renascença com o atual jurado de A Tua Cara Não Me É Estranha, António Sala.
O Sala fazia um programa nas manhãs da Renascença, que se chamava "Despertar" e todos os dias contava pelo menos uma anedota de alentejanos e de repente alguns alentejanos começaram a ficar mais ou menos chateados com a coisa. É que ele conseguia ser muito irritante e contrariamente ao que se pensa nem todos os meus conterrâneos são pachorreeeeentos e preguiçosooooooooos (ler com sotaque alentejano, por favor). Tenho que
reconhecer que o humor dele melhorou bastante desde então.

Bom, voltando ao "Despertar", um dia de manhã, o Sala lançou um repto: "Sabem porque é que os alentejanos têm
duas camas no quarto?"

Claro que a ideia dele era dizer que era para quando se levantam de uma voltarem a deitar-se para descansar, mas o tiro saiu-lhe completamente pela culatra.
Um ouvinte alentejano que já devia estar farto dele e das piadas secas sobre a raça, ligou para o programa em
direto  e deu a resposta: "Uma das camas é para dormirem com a mulher deles, a outra é para dormirem com a sua..."

.................................................................
O Sala perdeu completamente o pio, a emissão ficou em silêncio, não me lembro bem, mas seguramente um minuto, e que eu me lembre o Sala parou com as piadas alentejanas, porque ficou a saber que de vez em quando existe um alentejano menos preguiçoso que resolve dar uma lição a estes lisboetas armados em espertos.
Isto não tem nada a ver com a passadeira da minha rua, claro, mas lembrei-me, (as minhas filhas bem me dizem que eu divago muito e parece que afinal têm razão).
E entretanto espreitei pela janela da sala e descobri que chegou mais um, que pelos vistos é o chefe. Está parado a dar ordens ao da t-shirt branca que está a colocar a fita no chão.
Por este andar daqui a bocadinho está todo o departamento de trânsito da cidade concentrado em frente ao meu prédio. Já estou a ver o engarrafamento nos passeios...

Descobri ainda que se consegue pintar uma passadeira e meia por dia. Portanto os cinco senhores do "Trânsito" pintaram a passadeira da esquina e metade da outra que termina diretamente num muro que nem passeio tem e que de todas as passadeiras estrategicamente mal colocadas de Santarém, devia ganhar o prémio de estupidez para quem a ali colocou inicialmente.

Portanto a este ritmo, quando terminarem todas as milhentas passadeiras desta terra, que tem tantas que os peões preferem atravessar fora delas por já não as suportarem, podem recomeçar, pois a da esquina da minha rua, que foi a primeira já estará meio sumida e a precisar de uns retoques.

E assim se mantém o departamento "Trânsito" desta cidade scalabitana ocupadinho e sem risco de perder os seus magnificos empregos.

Eu é que sou burra. Se escrever mais devagarinho, o meu patrão vai ter de esperar para me despedir até estar tudo prontinho.

Está decidido, a partir de amanhã vou passar a usar mais as minhas origens alentejanas, a ver se a coisa resulta...

Se eu for despedida, aviso.

Mais uma daquelas coisas...

... que me fazem muita confusão.
Agora parece moda os pais que perdem os filhos escreverem livros sobre o assunto, em que expõem, com o
pretexto de ajudarem pessoas em igual situação, a sua dor, a forma como lidam com ela e como conseguem sobreviver, porque depois de perder um filho, penso que só se consiga sobreviver, não viver.

Não consigo sequer chegar perto de imaginar o que deve sentir um pai ou uma mãe quando perde um filho, e acho que ninguém, a não ser que tenha passado por isso o consegue imaginar, mas mesmo assim faz-me alguma confusão.
"Quando perdemos o marido ou a mulher ficamos viúvos, perdemos o pai ou a mãe, ficamos orfãos, quando perdemos um filho não ficamos nada... Não existe uma palavra para uma mãe ou para um pai que perde um filho!"
Esta frase foi-me dita por uma grande senhora, de quem eu gosto muito, que perdeu um filho e que como tantas
outras mães teve de aprender a viver com essa dor e essa perda diariamente.

Percebi a sensação de vazio que deve ser dentro do coração de uma mãe, é que é tão contranatura que nem existe uma palavra no dicionário. É uma coisa que não devia acontecer, até porque acredito que qualquer pai ou mãe a quem fosse dada escolha preferia tomar o lugar do filho.
Por isso não percebo que pessoas conhecidas, ou anónimas, que perderam filhos se predisponham a falar
publicamente sobre isso e a partilhar com o mundo uma dor que, para mim, devia permanecer no íntimo de quem a sente.

Mas, lá está, somos todos diferentes e ainda bem que assim é.
Entre esta semana e a próxima estarão à venda dois livros, que vão estar incluídos na categoria de autoajuda,
de um pai e de uma mãe que perderam os respetivos filhos.

O primeiro "Desistir Não é Opção" é escrito por Paulo Sousa Costa, que perdeu o filho Paulinho, de apenas seis anos, vítima de uma leucemia galopante e que está prestes a ser novamente pai de uma menina.
Ainda não li o livro, nem sei se terei coragem para tal, até porque já me fartei de chorar só a ler as páginas de pré-publicação que saíram na imprensa. Fiquei chocada com o que li, são frases avassaladoras e dolorosas de um pai que sentiu o vazio deixado pelo filho, que não sabe como vai fazer para amar a bebé que nascerá em breve (porque nenhum filho pode substituir o outro), que pede desculpa à companheira por não conseguir voltar a ser a pessoa que era.

Depois vi a entrevista do Paulo ao Manuel Luís Goucha e fiquei chocada com o vazio do seu olhar, com a imensa dor que deixa transparecer. Quando a entrevista terminou eu estava a chorar e como eu muitas das pessoas que assistem em direto ao programa e aposto que muita gente em casa. Ninguém que tenha filhos consegue ser indiferente a uma entrevista destas.

O segundo "Nunca Te Esquecerei", é escrito por Filomena Vieira, a mãe do cantor Angélico, que morreu no ano passado vítima de um brutal acidente de viação.
Ainda não li nada deste segundo livro e muito francamente nem sei se terei coragem para tal.
A atitude dos dois pais chocou-me de alguma forma, pois desde a morte dos filhos sempre se mostraram recatados nas emoções, especialmente a mãe de Angélico. O Paulo por causa da sua profissão acaba por ter sempre alguma exposição pública, com ou sem vontade do próprio, embora acredite que muitas vezes sem...
Não parece coerente com a postura dela que agora resolva de repente expôr-se aos olhos e corações do mundo, ainda não teve sequer coragem para regressar ao trabalho...
Como disse no início as pessoas são todas diferentes e ainda bem que o são. Por isso, por serem diferentes, têm
formas diferentes de encarar a dor e de viver com ela, de fazer a catarse que lhes permita seguir em frente, e por isso, talvez encontrem algum conforto no facto de pensarem que podem ajudar outros pais na mesma situação a perceber que não estão sozinhos, que a sua dor pode ser entendida por pessoas que passam pela mesma experiência, por pessoas que também deixaram de ter um adjetivo que os defina.

Se bem que o adjetivo deve continuar a ser pai ou mãe, porque, e apesar de o filho deixar de estar presente fisicamente, pai e mãe são "profissões" para a vida. Uma vez mãe, para sempre mãe, é daquelas coisas que nunca se deixam de ser. É o tal emprego para toda a vida.
Mas deve ser tão difícil, deve doer de uma maneira...
Quando um dos nossos filhos está doente, quebra um osso, arranca o dente do siso, tem uma nota menos boa e sofre por isso, a mãe sofre sempre em dobro. Qualquer dor dos nossos filhos nos dói em dobro, perder um...
É o pior dos pesadelos transformado em realidade. O confronto deve ser... brutal, violento, devastador, esgotante,
não sei, felizmente não consigo encontrar as palavras.

Nem gosto muito de pensar nestas coisas, embora já tenha sido confrontada com pessoas próximas que passaram por esta situação e que me deixou sempre assustada.
O vazio de expressão que vi nos olhos das mães que conheço que perderam filhos, a violência e intensidade da dor que se podia ler nos rostos, na postura, sempre me deixou sem palavras, sem reação, porque o que é que se pode dizer para consolar alguém que perdeu uma parte de si?
"Sinto muito. Lamento a sua perda". Não me parece que sirva para a ocasião, na verdade não me parece que existam palavras que sirvam para a ocasião. Espero muito sinceramente que os abraços consigam transmitir alguma coisa, porque são o meu recurso nestas situações em que não consigo pensar em nada para dizer, logo eu
que tenho sempre tanta coisa para dizer...

As palavras, tantas vezes grandes, são sempre pequenas perante um pai ou uma mãe que perde um filho. Acho que o próprio mundo se torna demasiado pequeno para essa dor.

Também vi a entrevista da Filomena Vieira ao Goucha e também quando terminou eu chorava. Percebi o porquê do livro, foi a forma que encontrou para continuar a dizer boa noite ao filho, de continuar a estar em contacto com ele. A forma que encontrou de o homenagear. Percebi um bocadinho.

O resto, a dor é impossível de perceber.

Quero terminar pedindo desculpa aos pais e mães que perderam filhos e lerem isto... Por não conseguir encontrar as palavras para descrever o que gostava de lhes dizer!

Um amigo especial

Um membro da familia!

A minha familia hoje ficou mais pequena. Perdemos um dos nossos membros mais
queridos.

O Trovão, o nosso Serra da Estrela despediu-se hoje de uma vida longa para um cão, mas pequena para o carinho que todos tínhamos por ele.
O Trovão era quase cachorro quando eu o conheci. Enorme, como convém a um Serra da Estrela, foi sempre muito delicado e teve sempre um cuidado especial no contacto com a minha filha mais nova. Ela sabia que era mais pequenina, mais frágil.
Por isso, sempre que a pequena se aproximava dele, deitava-se e abanava o rabo à espera de festas. E punha a sua pata com muito cuidado na mãozinha dela. A pata dele era maior que a mão da minha filha e ela sempre adorou aquele momento dos
dois.

Quando eu saía de casa mais cedo que todos, o Trovão dizia-me sempre bom dia. Em linguagem de cão, claro, mas dizia.
Teve uma vida longa e sofrida. Tinha uma otite quase crónica. Lembro-me de um Inverno em que tomou imenso antibiótico, o que era sempre uma "tourada".
Eu chegava com o comprimido muito bem "disfarçado" no meio de fiambre, carne ou qualquer outro petisco e estendia-lhe a mão.
Um cão muito esperto, é o que vos digo - apanhava o petisco, cuspia o comprimido e comia o resto.
Eu punha a minha cara de mãe mais séria e ralhava-lhe:
- Trovão! Sabes que estás doente. Tens que tomar o comprimido. Ai o menino...
Ele olhava para mim, com uns enormes olhos castanhos e tenho a certeza que a maior parte das vezes se estava a rir do meu desespero. Eu pegava no comprimido, punha na palma da mão e voltava a estendê-lo.
Acreditem ou não, ele comia-o.
Comia mesmo.
Tenho a certeza que ele sabia que precisava daquilo para ficar melhor e por isso
rendia-se. Mas primeiro gostava de gozar comigo. E eu deixava.

Vou ter muitas saudades tuas Trovão. Vais fazer muita falta na nossa vida.
Agora que podes finalmente descansar em paz, acredita que ninguém jamais te vai
esquecer.

Adeus Trovão.

 

A Margarida!

A Margarida é a princesa da família!
Nasceu num campo de golfe e foi-me oferecida pelo meu "chatinho" quando ainda era bebé. Chegou à minha vida num fim de tarde de domingo ao colo do meu marido e foi assim uma paixão à primeira vista para ambas.

É assim a coisa mais fofa que podem imaginar.
Surda que nem um portão. Não ofendendo os portões!
É completamente branca, e tem um olho de cada cor: um verde e um azul.
É um verdadeiro traste. Uma "Cabra do Mato", como eu lhe costumo chamar carinhosamente. Posso chamar-lhe o quiser, ela é surda, por isso é-lhe absolutamente indiferente o que eu diga.
Também é muito meiguinha.
Adoptou-me como mãe e eu adoptei-a no meu coração.

A Maggie é parte integrante da família. E muito mimada! Mesmo muito!
Há cá em casa quem a deixe fazer tudo o que ela quer.
Quem se levante do computador para a ir escovar, dar-lhe biscoitos, brincar com ela.
Quem a deixe subrepticiamente entrar no quarto à noite e saltar para cima da cama: "ela escapou-se". Pois claro.
Às vezes ficamos verdadeiramente espantados com ela. Muito esperta, sabe bem o que quer e como o conseguir.

Quando era pequenina e ainda morávamos na quinta, sempre que chegava alguém que ela não conhecia lá a casa, a Maggie ia para a porta da despensa e lá ficava a guardar a sua preciosa comidinha.

E se quiser colo, ninguém a demove. Até é capaz de atacar revistas, livros, computadores ou seja o que for que se interponha entre ela e o colinho escolhido para a sestinha da praxe.
Agora estou a trabalhar em casa e a usar o escritório onde costumava trabalhar o meu... já sabem, não é preciso dizer.
A Maggie passa o dia deitada ao pé de mim e de vez em quando faz umas tangentes às minhas pernas, que é como quem diz - roça-se violentamente à procura de mimo.
Arranjei para aqui um aquecedor e ela decidiu adoptá-lo, afinal se dá luz (é daqueles de barrinhas, estão a ver?), dá calor.
Então todas as manhãs temos um novo ritual: Eu chego, sento-me, começo a trabalhar e ela chega logo a seguir e faz aquele ruidinho que não é bem um miado, mas mais um gemidinho de queixume, muito fofinho a pedir para ligar o seu
aquecedor.

Pus-lhe uma mantinha no chão e ela passa os dias a virar-se para um lado e para o outro nas posições mais estranhas que possam imaginar e dorme, dorme, dorme...
Eu sei que é só uma gata, mas a verdade é que ela faz imensa companhia.
Tenho quase a certeza que ela sabe sempre quando estou triste, cansada, aborrecida ou feliz, bem disposta e cheia de energia.
A Margarida é assim como a minha terceira filha e não consigo imaginar o meu
núcleo sem ela, sem os pêlos por todo o lado, sem as suas patinhas cor-de-rosa a
derraparem no chão cá de casa.

Quando as miúdas saem aninhamo-nos as duas no sofá, com a "Polónia" (eu depois explico), e adormecemos as duas muito aconchegadas e consoladas.
No meio deste ano terrível que nunca mais acaba e que tem sido um verdadeiro desenrolar de coisas más, a Margarida nunca falha.
Eu acordo, ela aparece na cozinha...
Eu começo a trabalhar, ela pede para ligar o aquecedor...
Eu estou triste, ela pede festas...
Eu faço bolos, ela lambe as tigelas...
Eu vou ao frigorifico, ela pede leite...
Eu meto-me com ela, ela arranha-me...
Eu adoro-a e aposto que se ela soubesse falar dizia o mesmo a meu respeito...

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