Tenho andado a pensar naquilo que as minhas filhas me andam a dizer há bastante tempo: "Mãezinha, tu és muito estranha".
Começo mesmo a achar que as cachopas têm razão.
Estou de semi-férias no Algarve num apartamento de onde sairei daqui a menos de um mês e portanto, como já perceberam não é meu e obviamente não me devia preocupar com determinadas coisas.
Mas estamos a falar de mim, logo...
Pois já reorganizei os armários da cozinha e os roupeiros, bem como as loiças e os talheres no armário da sala.
Será possível?
Isto fui eu a pensar depois de ter terminado a minha árdua tarefa. Também já inventei uma despensa numa prateleira que existe atrás da porta da cozinha e onde até consegui com uma caixa da nespresso vazia, devidamente recortada e forrada a fita isoladora, criar um recipiente para pôr os frasquinhos das especiarias e os temperos tipo azeiite e vinagre, para não andarem à solta nas prateleiras.
Isto é mesmo de uma pessoa estranha, como decerto concordarão. Ninguém, mas ninguém mesmo se põe agora a reorganizar talheres, copos e pratos que não são seus, numa casa que não é sua.
Só mesmo eu, claro.
Vou começar a dar mais atenção às minhas filhas. Começo mesmo a achar que elas estão cobertinhas de razão.
Está-se mesmo a ver que eu nunca poderia ser fã de ninguém. Não quer dizer que não admire algumas pessoas, nomeadamente escritores, atores, cantores, etc, mas nunca me poderia categorizar como fã de alguém.
Senão vejamos o que é preciso para ser fã:
- Não ter vida própria!
Sim porque eu não acredito que pessoas que seguem um cantor pelo país inteiro e às vezes para o estrangeiro para verem consecutivamente o mesmo concerto tenham algum tipo de vida própria. Respeito muito as pessoas, mas custa-me um bocadinho ver cartazes com coisas como: "Tony faz-me um filho!", e outras coisas afins. Existe uma espécie de histerismo coletivo dos fãs em relação aos artistas, parece que é uma espécie de competição para ver quem consegue ser mais convincente na profissão.
Profissão, não me enganei a escrever, não. Profissão porque é preciso muito tempo e disponibilidade para desempenhar convenientemente a função de fã. Vamos voltar ao exemplo Tony Carreira. As fãs do cantor são acérrimas defensoras de tudo o que ele diz, faz, canta, veste e sabe-se lá mais do quÊ. Recusam-se a admitir que ele tem um problema capilar, que tanto quanto me consta é tratado numa empresa em Paris, com recurso a uma técnica inovadora em que uma espécie de cpachinho fica colado na cabeça da pessoa e é tratado por ela como se fosse realmente o seu cabelo. Isto tem um nome que eu já soube, mas que entretanto me esqueci. em Portugal também existe uma empresa que faz este tipo de trabalho. Sabe-se lá quantos mais carecas existem por aí...
Estou a desviar-me do tema.
- Ser cego, surdo e mudo!
Vamos aos fãs da Luciana Abreu que ontem criaram uma petição pública onde se insurgem contra a imprensa cor-de-rosa por tudo o que tem sido escrito a respeito da sua diva e que tem contribuído para denegrir a imagem da cantora.
Que raio é que passa pela cabeça de alguém para perder tempo com um assunto de lana caprina como este?
Que raio é que interessa que a imprensa escreva isto ou aquilo? Isso é um problema da imprensa e da Luciana e eventualmetne da família e dos amigos dela e de mais ninguém.
Afinal ela, coitadinha, tão santinha, até se pôs a jeito.
Levou a filha para a televisão, andou a dar-lhes nomes estranhos, anda a combinar conversas para dar a entender que já se está a reconciliar com o africano, como ela lhe chama, enfim um sem ror de asneiras, que não são de quem não quer ver a vida exposta nas páginas cor-de-rosa.
Mas os fãs não veem a coisa assim. A Luciana é uma santa, uma pessoa humilde, que lhes vira as costas no final do tal programa da TVI, uma criatura maravilhosa e cheia de virtudes (nem sei como não foi ainda beatificada) e a imprensa é que tem a culpa disto tudo. Aposto que também é a imprensa que inventa as bacoradas que lhe saem da boca para fora de cada vez que a abre. Enfim...
Logo por estas duas caracteristicas eu não podia de facto ser uma fã.
Até porque o significado da palavra, que provém do inglês fan, fanatic, já diz muita coisa sobre os próprios.
Fanático é um palavra de que não gosto muito.
Não acho particular piada aos fanáticos do desporto, uma coisa é apreciar, gostar, agora fanatismo...
Os fanáticos religiosos não são melhores. Uma grande percentagem dos problemas e conflitos mundiais tem a ver com questões religiosas e como descrever um sentimento que leva uma pessoa a ser um bombista suicida?
E o fanatismo de Hitler pela pureza da raça alemã que o levou a matar milhões de pessoas? Mais estranho ainda porque deveria de facto ter começado por se matar a ele, uma vez que era a antitese da tal pureza que tanto defendia.
Acho que este post está a fugir um bocadinho do tema central, mas para chegar a um ponto fulcral.
O que leva alguém a ser fanático por outrem?
Que me desculpem os fãs mas por muito que se goste ou admire alguém parece-me um bocadinho falta de personalidade, de auto estima, andar feito doido atrás de uma criatura só porque sim. A sério que até gostava de perceber. Convido os fãs que eventualmente lerem este post a fornecerem a sua explicação para o seu modo de vida.
Ah e não se zanguem comigo, isto é só a minha opinião.
Tão lindo, o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares está apaixonado. Que bom! Afinal começamos a ter esperança de encontrar vestígios humanos no governo. Quer dizer, se se apaixonam devem ter qualquer coisa de humano, não é?
Digo eu, claro, mas francamente tenho muitas dúvidas. Esperança tenho, mas tenho mais dúvidas.
Até achei giro o ministro, que afinal alugou uma casinha em Belém para viver com a sua Martinha, mas parece que tem residência oficial em Tomar, por causa de um pormenor financeiro relacionado com ajudas de custo e subsídio de deslocação, está apaixonado.
De certa forma isso até explica o ar meio tontinho que ele tem ultimamente. Eu primeiro pensei que era por causa da licenciatura instantânea, mas afinal é porque está apaixonado. Ora ainda muito bem para ele, que também tem direito à vida e ao amor e a ser feliz (este é o momento da ironia deste post. Aproveitem bem, que pode não existir outro).
Quero esclarecer que eu não tenho nada contra, nem a favor, nem assim assim em relação a este senhor Relvas, de seu nome.
Por acaso faz-me um bocadinho de impressão os nomes destes governantes, Relvas, Coelho, Portas, estão a perceber? São tudo animais, ou coisas úteis ou bonitas, nada como os próprios...
É-me tão indiferente como os seus colegas de governo, respetivos assessores, assessoras, namoradas, namorados, mulheres, maridos, amantes e etcs. Estou-me absolutamente nas tintas para a vidinha deles, que a minha já me dá bastante o que fazer.
Gostei foi do timing escolhido para a divulgação desta informação. Desenganem-se os que estão a pensar que a notícia foi resultado de uma investigação jornalistica profunda, isso hoje em dia quase não existe, até porque a internet exige rapidez e não perfeição. Foi resultado, sim, mas de uma chamada "fuga de informação", uma daquelas maravilhosas "fontes que preferem não se identificar", mas que são sempre "muito próximas" dos alvos das notícias.
E tenho que lhe reconhecer alguma inteligência e até benevolência.
Com todo o escândalo da licenciatura instantânea na ordem do dia, ele podia ter optado por desviar as atenções aumentando os impostos, sendo apanhado a fumar (não sei se fuma, mas em caso de necessidade...) num local proíbido, apanhado a fazer as suas necessidades fisicas de carácter líquido de encontro a uma das paredes exteriores da assembleia, pintado o cabelo de vermelho ou verde, ou azul, ou um mix de várias cores, mas não. Ele foi inteligente e escolheu apaixonar-se. Pronto, está bem, se calhar não escolheu, já se tinha apaixonado, mas escolheu divulgar este facto.
É sabido que nada fala mais caro aos corações portugueses do que o amor. Um ministro apaixonado é lindo (afinal sempre existiu outro momento irónico).
E pergunto eu: Que raio é que nós temos a ver com a vida sentimental, sexual, caseira e afins do senhor Relvas?
Nada, rigorosamente nada, mas serve para nos distrair de coisas mais interessantes e consequentemente mais incómodas para o senhor. Sim, que ninguém gosta de saber que as suas habilitações literárias e académicas andam nas bocas do povo.
Imaginem se uma coisa destas chega aos ouvidos da tia Merkel. Havia de ser bonito!
"Was? Ein Minister in der Liebe? Er hat nicht zur Arbeit gehen, um im Haus Flunder! Sie sind gefeuert!" (espero que isto esteja bem escrito), que é como quem diz: "O quê? Um ministro apaixonado? Ele tem que trabalhar e não andar aos linguados na assembleia! Está despedido!". O que seria! A juntar a isto acrescia ainda o facto de não ser afinal um verdadeiro doutor.
Uma vergonha! Um Escândalo nacional! Uma crise dentro da crise! Nem quero pensar. Sim que dá-me ideia que a tia Merkel não é pessoa para achar piada ao amor. Olhando para ela eu diria que nunca se apaixonou, tadinha. Eu sei que ela é casada, mas isso só pode ter sido fruto de estratégia política. Se ela tivesse assumido que odeia os homens no geral e a humanidade em particular ninguém lhe dava crédito. É certo que normalmente é mais ela a dar crédito aos outros, mas cobra-se bem e os juros são muito altos. Adiante...
A tia Merkel vinha a Portugal, irrompia pela Assembleia e desatava a insultar os deputados (o que até era uma forma de solidariedade para com os portugueses, que não desejam outra coisa), com a desvantagem de ser em alemão e eles, coitados, muito provavelmente não perceberem nadinha e acharem que ela estava a dilatar o prazo do acordo de ajuda financeira.
De esperança continuaremos a viver. Agora com a novidade fresquinha do senhor ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares estar apaixonado. Ainda bem. Vou dormir muito melhor, muito mais feliz e muito, mas mesmo muito menos preocupada com o facto de ter duas filhas para mandar para a faculdade em setembro e não saber muito bem como pagar as contas.
Mas isso agora, como diria a outra senhora, não interessa nada.
Esta semana fui com duas amigas ver o último musical do La Féria, "Uma Noite em Casa de Amália".
Impressões?
Chorei, ri, aplaudi entusiasticamente e saí de coração cheio e alma lavada.
O La Féria é de facto um génio nestas coisas e sabe, como ninguém, escolher os atores mais indicados para os papéis.
"Uma Noite em Casa de Amália" transportou-me de novo à minha terra de coração, o Brasil, através dos poemas e dos sambas de Vinicius de Moraes. Emocionou-me com os poemas de Ary dos Santos e a interpretação do ator que protagoniza o célebre poeta que é magistral. Maluda muito bem retratada no seu estilo direto e discreto e porte um pouco masculino. Natália Correia impertinente, inconveniente e brilhante como a original. David Mourão-Ferreira tão parecido que parece estarmos a olhar para o original. E Amália...
Vanessa Silva brilhante no papel de Amália. Sem pretensões a imitar o inimitável a jovem cantora tira partido da sua voz e arrebata o público com as suas interpretações.
Eu sou um bocadinho suspeita para enaltecer o espetáculo, porque sou absolutamente fã do La Féria, fã de fado, de samba e muito, mas muito fã de Vinicius.
Durante o tempo em que durou o espetáculo os meus olhos marejaram várias vezes, os meus lábios sussurraram os poemas, os sambas e os fados, as minhas pernas fizeram um enorme esforço para não se levantarem várias vezes da cadeira e a minha voz conteve-se outras tantas para não gritar: BRAVO.
Mas agora já estou liberta do apagar das luzes e do silêncio, por isso BRAVO!!!! BRAVO!!! BRAVO!!!
Aconselho a todos a irem assistir ao espetáculo, especialmente aos da minha geração que quase de certeza conhecem alguém que também esteve na guerra colonial, que conhecem ou souberam de alguém que foi vítima do antigo regime, que cresceram durante os primeiros anos sem conhecer a palavra liberdade.
Não sou apregoadora do 25 de abril e poucas memórias tenho desse dia, até porque tinha apenas sete anos, mas conforme fui crescendo fui tomando consciência da importância da "Revolução dos Cravos" e acho importantes estas abordagens que esclarecem algumas coisas e dão uma perspectiva mais intimista dos factos.
Houve um outro motivo que me fez adorar o espetáculo. Embora fã de fado nunca fui grande fã de Amália. Reconheço-lhe a grandiosidade, mas não fui nunca grande fã do seu registo. Gostos, certo? Todos temos os nossos.
Há uns anos atrás quando vi o filme "Amália", mudei um bocadinho de opinião a seu respeito. Conheci um pouco mais da diva do fado, do seu lado mulher, humana, apaixonada, atormentada como quase todos os artistas.
Com o musical essa opinião cresceu um pouco mais, ou reforçou-se e como se diz na minha terra: Só os burros é que não mudam de opinião!
E eu posso ser muita coisa, mas burra... só em algumas coisas.
Posso não ser a maior fã da fadista, mas sou fã da mulher ela era.
"Uma Noite em Casa de Amália. Não deixem de ver e emocionem-se!
Segundo o que tem sido escrito na "imprensa especializada" os "Morangos Com Açúcar" (MCA), vão conhecer o seu final depois de terminada a série de Verão. E ainda bem!
Eu confesso que, embora não seja propriamente para a minha idade, a série me tem feito companhia durante o período em que estou na cozinha a tratar do jantar da família, mas ultimamente comecei a ficar chocada com algumas coisas.
Primeiro porque dão a ideia de que os adolescentes assim que conhecem alguém andam logo metidos nas camas uns dos outros e sinceramente acho que embora os miúdos hoje em dia sejam mais soltos nestas coisas do que no meu tempo, e ainda bem, também não são assim tanto e as coisas não são assim tão abertas.
Depois porque francamente acho que a mensagem que estão a passar de que é preciso transformar as pessoas à nossa imagem e semelhança de forma a que se possa manter uma relação com elas é do mais errado possível.
Senão vejamos: Eu tenho duas filhas, uma com vinte e outra com dezoito e ando a ensinar-lhes desde o berço que devemos aceitar as pessoas tal como elas são. Se sentimos necessidade de as mudar é porque afinal não gostamos assim tanto delas. Que é preciso respeitar as diferenças de cada um, porque somos todos diferentes. Que se uma relação não funciona, se parte para outra.
Chegam os MCA e o que acontece? Temos a Sara que está apaixonada pelo Kiko, que é um bad boy, mas que pretende mudá-lo até o transformar numa pessoa igual a ela, que é uma miúda ótima, mas um bocadinho tacanha, porque se não o mudar não pode de forma alguma ter uma relação com ele.
Sou só eu ou mais alguém acha que está aqui alguma coisa errada? Ela apaixonou-se por ele porque ele é um bad boy, por isso ou o quer como ele é ou então...
Depois temos a amiga da Sara, a Ana Rita, que namorava com o Ricardo no início da série, outro bad boy, e que entretanto se apaixonou pelo Bryan, por quem aparentemente todas as miúdas se apaixonam, embora não se perceba bem porquê, e que agora parece estar novamente inclinada para o Ricardo. Confusos?
É mesmo de ficar.
Depois ainda temos a Verónica que é uma aspirante a caça-fortunas e que finge estar grávida para fisgar o Bryan, que veio dos Estados Unidos e é filho de pais ricos.
Já estou a ver as miúdas de dez, onze, doze anos, que é a idade das fãs do programa, a pensarem "Escola? Para quê? Vou mas é fingir que estou grávida e casar com um adolescente rico".
Esta para além de ser mentirosa ainda tem o mérito de ensinar as miúdas que a única coisa realmente importante da vida delas é a aparência. Podem não ter comida ou ter que vender droga para comprar vestidos, mas o importante é não repetir roupa. Deus nos livre de repetir um vestido! Nem sei o que poderia acontecer... Até podia cair o céu ou coisa do género.
Como é que é possível estarem a escrever estas coisas para adolescentes?Tenham dó.
Não sei quem é que escreve os guiões, mas francamente acho que se andam a passar um bocadinho.
Para além disso permitam outras observações:
Como mãe de adolescente e patrocinadora de muitos almoços e jantares convivio, tenho a informar os senhores guionistas que os adolescentes não falam assim. Não custa nada tentarem ouvir algumas conversas e fazer uma coisa um bocadinho mais realista.
Segundo também é duvidoso que se vistam assim. Eu sei que os miúdos hoje em dia se vestem às vezes de uma forma um bocadinho estranha, mas daí a té andarem meses a fio com uma saia vermelha, meias cor de rosa, camisa verde ou azul vai uma enorme diferença.
Terceiro rapazinhos como o Marcos existem mas normalmente são tratados com menos benevolência. então o puto rouba o dinheiro da viagem de finalistas dos colegas e a única consequência é ser expulso da escola? Existe uma coisa chamada polícia que normalmente trata de assuntos como roubos.
Por tudo isto e outras coisas que entretanto me passaram, ainda bem que os MCA vão acabar porque andam a arruinar a educação que eu ando a tentar dar às minhas filhas desde o berço.
Durante muito tempo sempre que alguém referia o termo "amigo/a de infância" ficava triste. Que eu me lembre só tenho uma amiga de infância, uma miúda mais nova do que eu a quem até mudei fraldas (temos uma diferença de 9 anos) e que até considero assim uma espécie de filha mais velha. De tal forma que quando nasceu a filha dela a mensagem no meu telefone era: "Já és avó. a H. nasceu hoje...". De resto da minha infância não sobrou muito. Vivia um bocadinho isolada e quando eu era miúda poucas pessoas tinham telefone, internet e telemóveis ainda estavam por inventar, por isso não era fácil.
Depois também mudei várias vezes de escola, e quando me separei e saí do bairro onde cresci, acho que o meu cérebro criou defesas e apagou muita coisa do chip. Sempre que vou visitar os meus pais e eles me começam a falar de pessoas que vivem ali e que conheci desde miúda, juro que faço um esforço, mas não me lembro nem das caras dessas pessoas. Chega a ser estranho e às vezes embaraçoso, que a minha mãe não é pessoa para desistir facilmente. "Não lembras? Claro qeu lembras. Aquela..." E eu nada de me lembrar.
Tenho vivido estes anos todos (46), com a sensação de ser uma pessoa diferente, porque toda a gente tem amigos de infância e eu só tenho a minha I., que adoro, mas sempre achei que precisava de ter mais alguns.
Tenho outros amigos, claro, que fiz já em adulta e com quem posso contar para tudo. Tenho a A., o F., tenho a L. e mais uns quantos, mas não muitos. Tenho muitos conhecidos e alguns mais próximos que outros, mas amigo é uma palavra que reservo só para alguns.
Recentemente descobri que as amizades para serem fortes e sólidas não precisam de ser de infância e que podemos conhecer uma pessoa há meia duzia de anos e sentir por ela uma "amizade de sempre".
É o caso da R. e do M.. Conhecemo-nos um pouco por acaso, o M. descobriu que o meu marido tinha sido amigo do pai dele. Começámos a sair à noite e Karaokes, jantares e copos (com ressacas medonhas) transformaram-nos em verdadeiros amigos.
Fomos os primeiros a saber do pedido de casamento e convidados para padrinhos do mesmo. Fiquei muito feliz. Gosto muito, mas muito da R. e do M. e estou muito orgulhosa por me terem escolhido para madrinha. Como disse o M.: "Faz todo o sentido, porque são amigos que fizemos enquanto casal".
A R. e o M., têm assim muitos amigos de infância e escolheram-nos a nós para testemunharmos o dia em que vão oficializar o amor deles perante amigos e família, porque acham que temos importância na vida deles.
Tenho que confessar que já estava a precisar de uma amiga como a R. que também é apaixonada por livros e compras e roupa e com quem se pode ter uma conversa sem que o tema seja dizer mal do marido, que é uma coisa que a mim não me assiste, mas que infelizmente parece ser o passatempo preferido da maior parte das minhas conhecidas. Mas com quem também se pode simplesmente deitar conversa fora - falar, falar e não dizer nada, coisa que todas as mulheres fazem.
De vez em quando toda a gente se queixa um bocadinho, mas fazer disso tema de 99% das conversas parece-me deprimente. Todos os maridos têm defeitos, tal como todas as mulheres têm defeitos. Não existe a perfeição e por isso as pessoas ou aceitam o que têm ou então vão à procura de melhor. Que mania de se queixarem.
Quando estamos com as amigas é suposto que seja para soltar a franga, como fizemos eu, a R. e a S., na semana passada. Conversámos de tudo, maridos incluídos, claro, mas sem amargos de boca, rimos até mais não, jantámos juntas num sítio maravilhoso e foi um fim de tarde de lavar a alma que fez bem às três.
A R. é uma miúda maravilhosa, tem um ótimo feitio e está sempre de bem com a vida. Às vezes também tem os stresses dela, como é óbvio, mas não temos todos?
Francamente já não tenho idade para ir almoçar com alguém e passar o tempo todo a ouvir: "o meu marido não me liga nenhuma, chega a casa e deita-se no sofá a ver televisão, só sai ...". Estão a ver o género?
Comecem a fazer alguma coisa mais útil da vossa vida. Sinceramente, muitas delas, se eu fosse casado com elas, também chegava a casa e me deitava no sofá. São, como se diz na minha terra, desenxabidas, insonsas, sem substrato...
Não comecem a pensar que eu me acho o suprasumo do interesse. Não é nada disso, mas deve ser uma seca aturar alguém que só se queixa e não faz nada para mudar as coisas. Que tal arranjarem uma vida? Um hobby? Um workshop? Sei lá, qualquer coisa! Um curso de dança de varão, por exemplo!
Voltando às amizades, comecei a chegar a conclusão que mais importante do que ter "amigos de sempre" é ter amigos a sério, daqueles que estão sempre lá e nos lavam a alma. Ah, e nos aconselham a dar outra oportunidade ao Saramago. Coisa que eu prometo fazer nos próximos tempos.
Os saltos altos entraram na minha vida por volta dos dezoito anos na mesma altura em que eu entrei no mercado de trabalho.
Até aí, eu era uma adolescente mais ou menos igual a tantas outras da década de oitenta que usava calças de ganga tão justas que precisava de me deitar para as abotoar, camisolas ou camisas do meu pai, com cinto na anca para dar algum estilo e ténis Cross ou Sanjo, dependendo das ocasiões. No verão abria umas excepções para umas saias compridas e rodadas o quanto baste, para ninguém perceber que eu era um esqueleto ambulante e sandálias de tirinhas completamente rasas. Está resumido o meu guarda-roupa da época.
Aos dezanove anos completei um curso de datilografia especializada e práticas de escritório que me manteve ocupada uma boa parte do verão e comecei a trabalhar no dia 24 de setembro de 1985, um dia glorioso de que nunca me hei-de esquecer. Estava dado o primeiro passo para a minha tão desejada independência.
Quando comecei a trabalhar esgotei rapidamente as poucas saias de que dispunha e, calças, no meu roupeiro, só de ganga, impróprias para escritório, mesmo tratando-se de um sítio descontraído como era o caso. Mas eu tinha sido contratada como secretária de direção e sempre gostei de levar as coisas a sério. Digam lá o que disserem ninguém leva muito a sério uma secretária de ténis, certo?
Comecei a folhear umas revistas e percebi que umas saias a que agora chamam lápis, e que na altura eram simplesmente saias travadas, uns sapatinhos com algum estilo e umas camisas me faziam alguma falta.
Por isso fiz um investimento em tecidos com o primeiro ordenado, eu ganhava assim 17 contos e quinhentos, que traduzido em euros não chega a 100, mas que bem esticadinho deu para muita coisa. Valeu-me o facto de a minha mãe ser costureira e não me cobrar o feitio, claro.
Mas ainda hoje sou uma excelente compradora de roupa a baixo custo. E não estou a brincar, tenho mesmo olho para as peças e para conseguir boas compras de vestuário e de sapatos que são uma das minhas taras.
Comecei a surgir no escritório com um ar menos gaiata e mais senhorita e calcei os meus primeiros saltos, pequeninos, para aí com 4/5 centímetros, no máximo, por volta dessa altura. Ainda me lembro, eram nude, como agora se diz, mas que na altura eram simplesmente cremes e tenho pena de não os ter guardado. Foram os pioneiros de uma bela coleção de varíadissimos modelos e cores.
Os primeiros dias nos saltos foram um tormento. Está bem eu sei que eles eram baixinhos, especialmente para quem agora usa saltos de 12 e 13 centímetros e os considera mais confortáveis do que sabrinas, mas na altura passei por um período de adaptação.
Gradualmente os saltos começaram a aumentar de altura. O facto de o meu primeiro casamento ter sido com um homem que tem mais de 1,80m também ajudou. Eu sou pequenina, tenho 1,60m assim para o lado do mal medido e francamente acho indecente que o mundo esteja configurado para gente grande, mas agora já me habituei. Até porque raramente saio à rua com menos de 1,70m. Sou eu mais os saltos, certo?
Os sapatos mais altos que tenho comprei-os este ano para um casamento e são tipo Victoria Beckham, ou pelo menos é assim que o meu marido, já não é o de 1,80m, este é mais baixinho, mas muito menos parvo, lhes chama. São maravilhosos, pretos, em verniz e com salto tipo agulha em metal dourado escuro, sola compensada e são do mais confortável que pode haver. Não, não estou a brincar! São mesmo confortáveis.
No dia do casamento em que os usei pela primeira vez, meti dentro do carro, à cautela, uns sapatinhos já mais usados dentro de um saco, não fossem os Victoria Beckham serem difíceis de domesticar.
Sei que andei o dia todo em cima deles, dancei e não foi pouco e cheguei a casa linda e maravilhosa com os meus sapatos maravilhosos calçados, tranquila e sem dores nos pés.
Os saltos tornaram-se parte de mim e a prová-lo está a tarde de sexta feira passada. Fui com as minhas filhas para as compras ao Dolce Vita Tejo, que, como sabe quem conhece é gigantesco e de onde é quase impossível sair sem dores por todo o lado.
Pensei que talvez não fosse boa ideia ir de salto alto e por isso calcei umas sabrinas, o que se revelou um erro crasso.
No carro tinha uns sapatos de salto que precisam de capas e andam no carro à espera que eu encontre um sapateiro, e calcei-os para conduzir, que é uma coisa que odeio fazer sem saltos. Não sei bem explicar mas normalmente o resultado é que não consigo fazer ponto de embraiagem e tenho tendência a deixar o carro ir abaixo. Com os saltos corre sempre tudo bem, por isso calcei os sapatinhos de salto para conduzir e por lá andei de sabrina.
Ao fim de duas ou três horas estava cheia de dores, nos pés, nas pernas, nas costas, enfim um bocadinho por todo o lado.
Quando regressei ao carro e voltei a calçar os meus belos saltinhos posso jurar que ouvi os meus pés suspirarem de alívio. A sério que ouvi. Foi uma sensação de alívio tão grande. Os meus pés voltaram à sua posição normal e não ao desconforto de não terem quase nada entre si e o chão. A sério que não sei como é que alguém pode dizer que as sabrinas são confortáveis. Eu só para bocadinhos pequeninos e para percursos curtos. Assim para ir comprar os jornais e o pão de manhã. De resto, nem pensar.
Os saltos para mim só têm um problema. Este país é cheio de buracos. A calçada portuguesa, que é linda, é do pior que há para pessoas como eu. Arruina-me os sapatos todos e deixa-me à beira das lágrimas sempre que olho para os meus queridos saltos.
Senhores governantes, presidentes de Câmaras ou responsáveis pelos passeios portugueses, pensem nas mulheres.
Experimentem andar de saltos nas calçadas e comecem a tratar melhor os buraquinhos das mesmas.
E pensem, todas as mulheres são mais sensuais montadas num belo salto alto. E suponho que ninguém está interessado num país de mulheres pouco sensuais, certo?
Fútil, eu? Não, baixinha! E farta de olhar o mundo de baixo para cima...