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Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

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Crise - a palavra mais ouvida em Portugal em 2012

Crise é a palavra da ordem do dia. Acho mesmo que tem sido a palavra mais escutada em Portugal durante este ano, que embora esteja prestes a terminar, não promete levar consigo a tão detestável palavrinha.

Em todo o lado se ouve: crise para aqui, crise para ali, é esta crise... e afins.

E o pior nem é escutá-la. É que para além de sofrermos os efeitos da nefasta crise ainda por cima os portugueses passaram a usar a dita cuja (crise), como desculpa para tudo. Ou pelo menos é o que me parece.

Senão vejamos:

Estamos cada vez menos cívicos na rua, na estrada, nos restaurantes, no trato com os outros... A culpa de quem é? Da crise, claro. As pessoas andam mal dispostas porque não têm dinheiro, não podem ir às compras, comer fora, fazer férias onde lhes apetece, comprar presentes de Natal e vingam-se nos outros, respondendo torto, não atravessando nas passadeiras, perdendo a estribeira por tudo e por nada, enfim... Estamos a tornar-nos um povo de gente mal humorada e feia. Sim, porque toda a gente sabe muito bem qu as pessoas mal dispostas e carrancudas são mais feias. Culpa? Da crise!!!

Os condutores apitam mais, os miúdos choram mais, as mulheres e os maridos zangam-se mais (casa onde não há pão...), os professores ensinam menos e andam mais mal dispostos, os funcionários públicos trabalham menos e atendem pior, os supermercados têm menos stocks. Se nos começarmos a vestir de preto e deixarmos de tirar o buço, vamos fazer jus à imagem que os brasileiros tinham de nós há alguns anos atrás: mulheres de bigode, vestidas de preto, que ouvem fado e que servem bacalhau com batatas aos maridos!!! Com o problema do bacalhau estar muito caro nesta época, de crise, lá está, e portanto na melhor das hipóteses ser substituido por uma sarda cozida. E já vão com sorte.

A crise tem tido outro efeito o psicológico dos portugueses. Todos os que têm dinheiro passaram a ser ainda mais sacanas do que já eram, e acumulam ainda o facto de não terem o direito de usar o seu próprio dinheiro em benefício próprio porque isso é, obviamente, uma afronta aos que não têm. Quem tem dinheiro devia abdicar dele e passar a comer na sopa dos pobres!!! 

Acham que estou a exagerar? Olhem que nem tanto!

Eu trabalho num site social, onde vamos dando conta das festas e eventos que os famosos ou pseudo-famosos do nosso jet-set (neste momento mais cinco ou seis, mas pronto)  vão frequentando, e fico escandalizada com os comentários dos utilizadores do site. 

Toda e qualquer festa, seja de que género for, seja paga por quem for, seja onde for, é motivo para as pessoas despejarem a sua bílis, que anda mais verde e venenosa que nunca.

A Jô Caneças fez 60 anos e deu uma festa para os amigos? Um escândalo!!! Como é que é possível? Com tanta gente a passar fome como é que é a senhora se atreve a usar o dinheiro que o marido ganhou para dar uma festa? Devia obviamente ter levado os 200 amigos que convidou para a sopa dos pobres de Lisboa, para onde devia ter dado todo o dinheiro gasto na festa. Nunca atrever-se a comemorar os seus sessenta anos como muito bem lhe apeteceu! Nem é normal que a própria não perceba isto. É tão óbvio!

Então agora quem tem dinheiro tem de ter vergonha de o ter, certo? Quem ainda pode fazer férias ou uma festa de anos, não o devia fazer, certo? Quem pode comprar um carro novo, devia pegar no dinheirinho e doá-lo para caridade porque é muito mais justo, naturalmente.

O facto de cada um usar o dinheiro que tem e que ganha como muito bem lhe aprouver é absolutamente escandaloso.

A verdade é que, e voltando ao exemplo da Jô Caneças, eu até acho que ela deu um empurrãozinho à economia portuguesa, com a sua festinha de anos. Um empurrão pequenino, mas um empurrão ainda assim. Ora essa!

Então vamos contabilizar: O restaurante onde ela juntou os 200 amigos faturou a festinha e sendo que dá emprego a umas quantas pessoas, muito provavelmente equilibrou um bocadinho melhor as contas. Os funcionários talvez ainda tenham recebido umas gorjetas, que dão sempre jeito numa casa. Os fornecedores do restaurante de comida, bebida, a lavandaria, a limpeza, etc, ficaram todos contentes com o acréscimo das vendas que alimentar e matar a sede a 200 pessoas implicam. Os convidados seguramente levaram um presentinho, por mais modesto que fosse à anfitriã, logo as lojinhas onde foram comprados, pelo menos nesse dia estrearam a caixa. 

Mesmo que não tenham sido todos, pelo menos uma parte dos convidados comprou roupinha nova para o evento, ou uns sapatinhos, uma malinha, uns brincos, umas cuecas, enfim, uma pecinha de roupa. Logo as lojinhas onde fizeram as compras ficaram felizes. 

A deslocação dos convidados em carros próprios, táxis, autocarros, ou seja qual for o meio de transporte utilizado também implicou um acréscimo das vendas de combustível, ou das corridas de táxi, ou dos bilhetes de autocarro, ou mesmo no caso de irem a pé, de precisarem de meias solas nos sapatos mais rapidamente. Logo dinamização da economia.

Uma percentagem dos convidados destas coisas tem sempre tendência a beber demais, logo no dia seguinte a venda de aspirinas, brufen, ben-u-ron e nos piores casos, guronsan aumenta, o que deixa as farmácias muito felizes, até porque ultimamente têm-se queixado bastante.

As sobras das 200 refeições com um bocadinho de sorte foram parar a casa dos funcionários do restaurante que pouparam assim uma ida ao supermercado incrementando a sua economia doméstica e eventualmente dando espaço a que se comprem, este mês dois pacotes de bolachas para os miúdos.

Agora imagem que todas a Jôs Caneças deste país começavam a comemorar os seus aniversários desta forma? Tenho a certeza de que nos livravamos da crise muito mais rapidamente do sob a influência do Gasparzinho e do seu amigo Coelhinho que acham que temos todos de deixar de comer, vestir, calçar, fazer férias, etc, para nos livrarmos da crise. Na pior das hipóteses, pelo menos uma boa parte d país havia de ser muito mais feliz do que atualmente.

Desviei-me um bocadinho do assunto - a crise, mas pelo menos acho que consegui esclarecer o meu ponto de vista.


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