Workshop de cozinha vegana
Começando pelo princípio - eu não sou vegan, nem vegetariana, nem ovolactovegetariana, nem nada que se pareça. Mas as mães fazem muita coisa pelos filhos e eu não sou exceção.
A minha filha mais velha há quase dois anos que optou por uma alimentação, até ao momento, ovolactovegetariana, o que tem sido um desafio para mim em termos de criação de pratos para a alimentar, sempre que ela está em casa. É um desafio especialmente porque não gosto de olhar para o prato dela e sentir que está a comer uma coisa muito diferente de nós, sei lá, acho que sinto que a estou a discriminar… Parvoíces de mãe.
Aqui há umas semanas vi um folheto online de um workshop de cozinha vegana e já a pensar no, quase inevitável, próximo passo na alimentação dela, decidi inscrever-nos às duas. Claro que já sabia que isto ia ter consequências nefastas, até porque a nossa opinião sobre estas coisas é totalmente diferente.
Ok, ok, eu percebo que ela não queira comer os bichinhos e essas coisas, mas há alguns pormenores que me escapam. Os ovos, por exemplo. Quer dizer as galinhas atiram com os ovos cá para fora e se ninguém os comer.. Eu sei, eu sei que as galinhas coitadinhas estão fechadas no aviário e em condições não sei quê… Mas nós temos a felicidade de comer ovos caseiros, produzidos e expulsos dos úteros das nossas galinhas, que são bem tratadas e felizes. Na verdade são tão mimadas que quando o meu marido entra no galinheiro elas deitam-se em cima dos pés dele a pedir festas. Portanto lamento mas não me sinto nada culpada por lhes comer os ovos. Na verdade não me sinto culpada de coisa nenhuma, o que me leva às minhas impressões sobre a criatura que deu o workshop.
E começo por dizer que não gosto de fundamentalismos. Sejam religiosos, alimentares, musicais, raciais, o que for. Não gosto e pronto. Respeito as ideologias e as crenças e tudo o que for nas pessoas e não gosto de sentir o contrário.
A senhora era fundamentalista, como aliás me parece que são muitos vegans. Basicamente comecei logo a ficar mal disposta com as generalizações. “As pessoas que comem uma alimentação com carne acham que comem um bife com batatas fritas e que estão a ingerir a dose diária de proteína necessária e que portanto se estão a alimentar bem. E depois dizem aos vegetarianos que deviam ir ao médico porque podem ter carências a nível nutricional…”.
Epá, desculpem lá. Ok, existe muita, mas muita gente que se alimenta pessimamente. Acho que todos nós cometemos asneiras alimentares e isso faz parte da vida e de vez em quando contribui imenso para a nossa felicidade. Agora lamento, mas as coisas não são bem assim.
Eu não sou vegetariana, mas uma grande parte da minha alimentação passa pelos vegetais e pela fruta, pelas carnes brancas, ovos e peixe e alguns laticínios, não muitos, que não gosto muito de leite. Se como batatas fritas e bife? Como sim senhora. Se me apetecer, mas nunca por sistema. E não gosto de generalizações e extremismos.
Ah e tal, que o açúcar é péssimo, o azeite não é tão bom como o óleo de coco, devem usar xarope de agave ou geleia de arroz para adoçar os bolos e Deus vos livre de usarem ovos nos bolos…
A sério? É preciso tanto exagero? Para mim, desculpem mas é um exagero.
Passei o workshop todo a massacrar a minha filha com as minhas opiniões, o que deu origem a uma bela discussão quando saímos de lá, claro. Mas porque raio de carga de água é que eu não consigo estar calada? Que nervos!
O facto de ser a única não vegetariana num workshop de cozinha vegana não ajudou nada, claro. Mas quando foi passado entre os participantes para prova uma tentativa, muito fracassada, de um tofu à Brás com levedura de cerveja, açafrão, natas de soja e batatas cruas, literalmente cruas, que sabia pessimamente, eu desisti e não provei mais nada. À Brás leva ovos e ponto final. Se não se comem ovos não se come à Brás. Ponto!
Não preciso de dizer que a minha filha achou a mixórdia (ácida, sem sal e com as batatas cruas) deliciosa. São pontos de vista… Acho que se ela não fosse vegetariana tinha achado o mesmo que eu, mas é o ponto de vista dela.
A minha filha mora em Lisboa, está na faculdade e geralmente faz a sua própria comida. Desde que ela se tornou vegetariana eu tento reproduzir as receitas tradicionais com os produtos dela, tenho pesquisado e descoberto novos produtos, novos locais para os comprar. Não pensem que eu não apoio a decisão dela. Posso não concordar, mas nunca vou deixar de apoiá-la. Já a passagem para vegan, não ei como vou encaixar. Parece-me tudo demasiado insípido mas no final é ela que vai comer aquelas coisas e não eu, claro. A opção continua a ser dela, e eu estarei cá para a apoiar, mas concordar… não sei se consigo.
Até agora conseguimos sair para comer fora com ela, muito em restaurantes italianos e em alguns espaços que começam a ter opções vegetarianas com ótimo aspeto e sabor. Mas e quando ela for vegan? Vamos todos andar a comer leveduras? Não me parece. Nada contra a comida saudável, mas comida saudável na minha perspectiva é outra coisa e não vou deixar de comer em sítios que gosto, mas começo a ficar preocupada com a logística da coisa…
Curiosamente a senhora vegana, supersaudável, cheia de preconceitos contra os pecadores que comem proteína animal, é fumadora!!! Ah, pois é! Toda a gente peca, não é fofinha?
Pois olhe, eu como galinhas e seus ovos, como peixe e suas ovas, confesso, e às vezes até como batatas fritas e bifes, mas não fumo! Toma!
Querem saber que mais? Hoje vou a um seminário: “Mitos da Alimentação Saudável: Nem tudo o que se diz é verdade” e a minha filha vai comigo. Já prometi a mim mesma manter-me caladinha. Dentro do meu possível, claro.