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Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Tribos

Acompanhada de duas amigas fui ver a peça Tribos, com o brasileiro António Fagundes à cabeça de um cartaz, que inclui o filho dele e mais uns quantos atores completamente desconhecidos para o público português.

Se não tivesse lá ido, não saberia se gostava ou não, mas como fui, já posso dizer - não gostei.

Começando pelo princípio, o ar condicionado do Tivoli estava avariado no dia em que estive lá e o ambiente abafado e pesado, embora os leques oferecidos à entrada ajudassem, quase fazem adormecer uma pessoa durante os cerca de 90 minutos da peça.

A história de Tribos gira à volta de uma família onde o patriarca, António Fagundes, privilegia a cultura e a educação e questiona o rumo dos três filhos, incluindo um surdo (o filho do Fagundes), que foi ensinado a falar e a ler os lábios para não se sentir excluído. Para além do menino surdo existe uma rapariga que anda à procura do seu rumo na vida, um outro filho, que regressa a casa dos pais depois do final de uma relação amorosa e que funciona a maconha (droga) e uma mãe, a mulher do Fagundes, que descobre a sua vocação para a escrita. Ou não… Para além disso ainda entra na peça uma outra atriz, proveniente de uma família de surdos, embora ela não o seja, e que acaba por se envolver com os dois irmãos.

A história é um bocadinho esquizofrénica, ainda que um bocadinho realista, mas a realidade é esquizofrénica, como todos sabemos,  descrevendo a parte disfuncional de uma família, certamente igual a algumas que existem pelo mundo.

Honestamente não gostei. Fiquei desiludida com o trabalho do Fagundes pai, que se limita a cirandar pelo palco e a dizer meia dúzia de frases, com alguns palavrões, um bocadinho gratuitos, à mistura, mas acima de tudo, fiquei desiludida com a fraca qualidade do texto, seguramente com pretensões intelectuais, quiçá fora do alcance da minha inteligência, mas que não me pareceu, de todo, grande coisa.

O som não é muito bom e o facto de os atores serem brasileiros leva a que seja muito complicado acompanhar o texto, mesmo para mim, que estou bastante habituada ao ritmo de conversa brasileiro.

Durante a peça, onde, sem vergonha, posso confessar que quase adormeci, comecei a temer pela minha inteligência e capacidade de absorver algo mais profundo do que o universo onde os meus dias, por imposição profissional, se desenrolam (imprensa social), mas no final, e escutando os comentários das pessoas que iam saindo e caminhando pela Av. da Liberdade abaixo, acabei por perceber que não tinha sido a única.

A peça é fraca. Os atores são fracos. A dicção de alguns deles, e esquecendo o facto de serem brasileiros, é péssima e o Fagundes, o único nome conhecido entre nós, via telenovelas brasileiras, a única coisa que fez foi emprestar o nome à peça para dar um empurrãozinho ao filho. Essa parte eu até percebo, temos que olhar pelos nossos e o filho dele é o único que se safa naquilo tudo.

Nós, os portugueses, no geral, temos a mania que tudo o que vem de fora é bom. Que os atores estrangeiros é que são e que os de cá são todos péssimos. Lamento, mas qualquer um dos nossos atores mais fraquinhos faria bem melhor do que aquilo a que assisti no palco do Tivoli.

O Fagundes, ao que consta, que eu não tenho o hábito de acompanhar novelas brasileiras, é bom nas novelas da Globo. A avaliar pelo seu desempenho na peça devia-se ficar por elas, as novelas, claro, que para o teatro não me parece que leve grande jeito.

Salvou-se a noite, que estava fantástica e bem melhor que a maioria das deste, quase inexistente, verão; salvou-se a companhia, que foi boa, felizmente, e salvou-se o sair da rotina trabalho/casa/trabalho, que ainda por cima fica tudo no mesmo local. Mas a peça, desculpem, mas já vi tão melhor feito pela prata da casa.

Vamos deixar de enaltecer tudo o que vem de fora e de denegrir os nossos. Os atores portugueses são mestres no palco. Os brasileiros são nas novelas. Cada macaco no seu galho e, por mim, e na minha modesta opinião, o Fagundes devia ter ficado no galho dele. Não gostei.

Encontros e desencontros

A nossa vida é feita de encontros e desencontros. Dependendo das várias fases que vamos vivendo, vamos gerindo as quotas de encontros e de desencontros, de pessoas, situações e até sentimentos.

A minha vida tem sido feita de muitos, e muito bons, encontros. Outros nem por isso, e também são muitos e alguns muito maus. Faz parte. Mas também tenho a minha quota parte de desencontros. Uma parte um bocadinho maior do que eu gostaria, mas, lá está, também é a vida.

No geral, estou desencontrada com quase toda a minha família. Não a família que eu escolhi, mas a minha família de sangue, a primeira que conheci, ou pensei que conhecia, pelo menos.

O meu coração, ou a minha razão, às vezes nem sei bem, tem uma capacidade gigantesca de ultrapassar os desencontros, de os cobrir com uma película, que embora muito fininha, até agora tem resultado imenso.

Não sou nada daquelas pessoas que gosta de esgravatar no passado, especialmente naquela parte do passado que tem as coisas que eu não quero recordar. E muitas dessas coisas incluem a minha família, os meus pais, tios, tias, primos, etc. É um bocadinho triste, mas tem sido assim e para bem da minha paz de espírito, tem funcionado lindamente. Tento evitar ao máximo tudo o que possa romper a película que me protege. É uma defesa, apenas mais uma das muitas que aprendi a criar e que me têm ajudado a manter a sanidade mental. Pelo menos alguma.

De vez em quando, nem sempre por minha vontade ou iniciativa, alguma coisa sai do meu passado e regressa à minha vida. Às vezes é bom, outras nem por isso. Foi bom quando retomei o contacto com um dos meus primos mais novos, também ele um bocadinho outsider, um bocadinho diferente, um “cavalo selvagem”, como ele nos definiu recentemente. Gostei muito deste encontro e espero muito em breve reunir as condições para lhe fazer uma bela visita, pôr-mos a conversa em dia e, quem sabe, até bebermos uma bela aguardente, de que ambos somos apreciadores.

Um contacto mais recente, que se pode tornar num encontro, ainda não sei, deixou-me bastante mais apreensiva.

Recebi há uns dias uma mensagem de uma das minhas primas. Um ano mais nova do que eu sempre fomos bastante próximas. Sempre olhei para ela como o mais parecido que eu tinha com uma irmã, que não tenho e que, curiosamente, cada vez mais sinto que me faz falta. Vejo o meu marido com os irmãos e sinto falta de ter aquele tipo de cumplicidade, de memórias, de passado com alguém. Mas pronto, não tenho. Crescemos muito próximas (eu e a minha prima)  e sempre achei que assim seria durante toda a nossa vida. Entretanto casámos, ambas tivemos filhos e foi com o meu divórcio que acabámos por nos afastar.

Culpa? Não sei, muito honestamente. Talvez dela, talvez minha, provavelmente das duas, aposto que com um bocadinho de influência do marido dela, que nunca foi lá muito com a minha cara. A minha opção não foi nada bem aceite pela minha família e eu também não ajudei. Precisava de me regenerar e por isso decidi afastar-me. Mas também, nunca ninguém me procurou. Quer dizer, quase ninguém.

Estivemos juntas depois de ter nascido o seu filho e senti uma coisa que nunca tinha sentido na presença dela, constrangimento. Senti que estava a ser julgada, ainda que sem palavras, que ela não só condenava a minha opção de me separar, como nem sequer estava interessada em saber quais os meus motivos.

A partir daí tentei afastar-me o mais possível de toda a gente, incluindo, e muito especialmente, os meus pais, que manifestamente me condenaram, criticaram, crucificaram, caluniaram, etc., e me fizeram a vida o mais negra que lhes foi possível durante essa época.

Portanto recebi uma mensagem da minha prima e, pronto vou confessar, fiquei feliz. Liguei-lhe de volta e combinámos ir almoçar para conversarmos. Ao que percebi, descobriram o meu blog na família, embora tenhamos ficado de falar pessoalmente sobre o assunto. Ainda não almoçámos. Não, não estou a fugir, nem a adiar. Ainda não tive oportunidade, mas tenho vontade de ir ter com ela. Quero escutar o que ela tem para me dizer e, se for o caso, tenho todo o gosto em lhe dizer os meus motivos.

A última vez que estive com toda a minha família foi há uns três anos e não me correu nada bem. Não me entendam mal. Toda a gente me recebeu bem, mas eu sinto que não faço parte, que não pertenço. Exatamente o oposto daquilo que sinto quando estou com a família do meu atual marido, onde me sinto “em casa”, por assim dizer.

A minha relação com a minha família nunca mais será a mesma. Para isso seria preciso que todos conversássemos e ninguém é muito dado a expôr sentimentos. Excepto eu, e o meu primo de que falei anteriormente, mas parece-me bem que seremos os únicos. Lá está “wild horses”.

Mas eu tenho saudades de ter uma família, de ter tios, primos, de poder ligar às pessoas, etc. Neste momento parece-me é que será difícil recuperar os anos todos, à volta de 16, 17, em que temos estado afastados. E, muito, mas muito honestamente, nem sei se quero despender toda a energia que isso me iria consumir. Tenho tanta coisa para resolver dentro de mim. Já vivi este tempo todo sem família. Acho que consigo continuar.

Não me interpretem mal. Eu gosto deles. Bom, não de todos, claro. Não temos de gostar de alguém só porque é do nosso sangue, isso, para mim, não faz sentido nenhum. Gostamos das pessoas por outros motivos, nem que seja só porque sim, mas não por partilharmos o mesmo ADN.

Mas gosto de alguns, e gosto bastante, embora neste momento, lá está, não faça nada para estar com eles ou para mudar as coisas entre nós. Porque simplesmente aprendi a viver sem eles.

Habituamo-nos a tudo na vida, até a viver sozinhos, não que eu esteja sozinha, mas também me habituava. Aprendi a depender mais da família de amigos, poucos mas muito bons, que fui juntando ao meu redor e que gostam de mim como eu sou, me aceitam, me escutam e, concordando ou não, estão sempre lá para mim. E isso é que faz a diferença na nossa vida. Saber que existe alguém com quem podemos contar para além de nós.

A nossa vida é feita de encontros e desencontros. Acima de tudo, tenho esperança que este venha a ser um encontro e não mais um dos muitos desencontros da minha vida.

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