Esta greve dos professores...
Eles protestam. Nós pagamos.
Desenganem-se os mais crédulos. Esta grevezinha dos professores do secundário vai sair-nos muito cara. Os exames vão ter de ser repetidos por milhares de alunos, o ministério vai fazer novos exames, imprimir novos exames, fechá-los em novos envelopes…
Estão a ver o resultado de tudo isto? Mais um impostozeco ou outro para atenuar o percalço financeiro que a greve dos docentes provocou.
Eu não grandemente a favor das greves no geral. Não tenho alma de sindicalista e acho que as pessoas crescidas resolvem as coisas sem andarem aos gritos no meio da rua com cartazes a insultar seja lá quem for. Mas isto sou eu. Nunca fui sindicalizada e nunca fiz greve. Não tenho particular orgulho em nenhuma das duas coisas. Simplesmente nunca aconteceu.
Mas os senhores professores que estavam cobertos de razão até ao dia de hoje, perderam-na ao hipotecarem o futuro de milhares de miúdos que estão doidos para se verem livres dos exames, para fazerem as suas candidaturas à faculdade e para começarem a peregrinação de festivais de verão do costume.
O problema aqui não passa só pela redução das férias dos alunos, mas eventualmente também pela redução das férias dos pais, que convenhamos, estão, como todos, nós a precisar desesperadamente de uns diazinhos ao sol, de papo para o ar, com a lancheira ao lado. (Os almoços nos restaurantes de praia começam a fazer parte de um passado cada vez mais longínquo).
Mas não só as férias. Quem já despachou filhos para a faculdade sabe que é um processo que envolve alguma logística. Arranjar casa, alugar casa, pedir água, luz, gaz, internet e televisão, limpar e mobiliar casa, transportar e arrumar todas as tralhas que os adolescentes precisam para sobreviver, etc. é um processo que envolve alguns (bons) dias até à sua conclusão.
Este atraso nos exames pode não ser nada bom para o estado de espírito dos pais que já começam a ver no horizonte excursões à cidade para onde vão despachar o filho, tentar encontrar alojamento a um preço razoável, seja lá o que isso for, e umas dores de costas à conta de carregar a tralha para o alojamento respectivo. Uma tragédia, garanto-vos eu, que no ano passado alojei duas e bem sei as nódoas negras e dores de costas que me acompanharam durante semanas.
Acima de tudo acho que a chantagem, o único nome que consigo dar à atitude dos professores, nunca é a melhor forma de lutar pelos nossos direitos. Seja em que circunstância for. E quando essa chantagem envolve o futuro de terceiros, torna-se ainda mais sórdida.
Já sei que vou ser achincalhada e provavelmente acusada (novamente) de fundamentalista.
Lamento, mas esta é a minha opinião. Os professores não estão a viver pior nem melhor do que o resto dos portugueses. Na verdade, estamos todos a viver bastante mal, todos no mesmo barco, que parece prestes a afundar-se. Portugal é neste momento uma espécie de Titanic depois de ter encalhado no icebergue. Até temos o mar, só nos falta o icebergue.