Quantos são precisos?
Para pintar uma passadeira?
Descobri agora mesmo que são quatro. Na minha rua chegaram quatro senhores com coletes que dizem "Trânsito" e estão a preparar-se para pintar a passadeira da esquina. Descobri que são precisas quatro pessoas para pintar uma passadeira.
Um deles coloca os pinos a delimitar a zona, o segundo tem a responsabilidade da colocação dos sinais de
trânsito junto aos pinos, o terceiro está a varrer o pó da passadeira e o quarto, que por enquanto não está a fazer nada suponho que seja o pintor, até porque é o único que tem uma t-shirt branca vestida e não tem colete.
É giro, não é?
Especialmente para mim que sou alentejana e passei metade da minha vida a ouvir coisas do género: quantos alentejanos são precisos para mudar uma lâmpada?; quantos alentejanos são precisos para...?
Afinal descubro que para pintar uma passadeira são precisos quatro ribatejanos...
Esta conversa sobre os alentejanos, e embora não tenha nada a ver com passadeiras, lembrou-me um episódio memorável em rádio, mais concretamente na Renascença com o atual jurado de A Tua Cara Não Me É Estranha, António Sala.
O Sala fazia um programa nas manhãs da Renascença, que se chamava "Despertar" e todos os dias contava pelo menos uma anedota de alentejanos e de repente alguns alentejanos começaram a ficar mais ou menos chateados com a coisa. É que ele conseguia ser muito irritante e contrariamente ao que se pensa nem todos os meus conterrâneos são pachorreeeeentos e preguiçosooooooooos (ler com sotaque alentejano, por favor). Tenho que
reconhecer que o humor dele melhorou bastante desde então.
Bom, voltando ao "Despertar", um dia de manhã, o Sala lançou um repto: "Sabem porque é que os alentejanos têm
duas camas no quarto?"
Claro que a ideia dele era dizer que era para quando se levantam de uma voltarem a deitar-se para descansar, mas o tiro saiu-lhe completamente pela culatra.
Um ouvinte alentejano que já devia estar farto dele e das piadas secas sobre a raça, ligou para o programa em
direto e deu a resposta: "Uma das camas é para dormirem com a mulher deles, a outra é para dormirem com a sua..."
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O Sala perdeu completamente o pio, a emissão ficou em silêncio, não me lembro bem, mas seguramente um minuto, e que eu me lembre o Sala parou com as piadas alentejanas, porque ficou a saber que de vez em quando existe um alentejano menos preguiçoso que resolve dar uma lição a estes lisboetas armados em espertos.
Isto não tem nada a ver com a passadeira da minha rua, claro, mas lembrei-me, (as minhas filhas bem me dizem que eu divago muito e parece que afinal têm razão).
E entretanto espreitei pela janela da sala e descobri que chegou mais um, que pelos vistos é o chefe. Está parado a dar ordens ao da t-shirt branca que está a colocar a fita no chão.
Por este andar daqui a bocadinho está todo o departamento de trânsito da cidade concentrado em frente ao meu prédio. Já estou a ver o engarrafamento nos passeios...
Descobri ainda que se consegue pintar uma passadeira e meia por dia. Portanto os cinco senhores do "Trânsito" pintaram a passadeira da esquina e metade da outra que termina diretamente num muro que nem passeio tem e que de todas as passadeiras estrategicamente mal colocadas de Santarém, devia ganhar o prémio de estupidez para quem a ali colocou inicialmente.
Portanto a este ritmo, quando terminarem todas as milhentas passadeiras desta terra, que tem tantas que os peões preferem atravessar fora delas por já não as suportarem, podem recomeçar, pois a da esquina da minha rua, que foi a primeira já estará meio sumida e a precisar de uns retoques.
E assim se mantém o departamento "Trânsito" desta cidade scalabitana ocupadinho e sem risco de perder os seus magnificos empregos.
Eu é que sou burra. Se escrever mais devagarinho, o meu patrão vai ter de esperar para me despedir até estar tudo prontinho.
Está decidido, a partir de amanhã vou passar a usar mais as minhas origens alentejanas, a ver se a coisa resulta...
Se eu for despedida, aviso.