As ilações das eleições
As eleições de ontem e a taxa de abstenção, de 66%, segundo os dados que recolhi na net, mostra bem o estado de espírito dos portugueses nos dias de hoje. Estão-se literalmente “nas tintas” para tudo. Cansados, sem dinheiro, motivação ou perspectiva de um futuro melhorzinho, os portugueses limitam-se a ignorar tudo aquilo que podem. E as eleições ainda são uma das coisas que se podem ignorar. Não podemos ignorar os impostos, as taxas, as multas, etc, mas ainda não é obrigatório votar, por isso… não se vota. E, como tal, dois terços dos portugueses não votaram. Ou seja, se somos mais ou menos 11 milhões, isso significa que, cerca de mais de sete milhões de portugueses fizeram um belíssimo e portuguesíssimo MANGUITO aos políticos.
A primeira ilação dos resultados é que o Seguro não está tão seguro como ele pensava. Eu confesso que não gosto dele. Não fez nada que lhe permita dar palpites sobre a governação dos outros. A voz dele enerva-me solenemente. Faz-me lembrar um seminarista ressabiado e, lamento, mas não me inspira confiança nenhuma. Espero que nunca chegue a primeiro ministro porque tenho cá a impressão que é pessoa para voltar a afundar o país e bem mais fundo do que o seu colega de partido, pseudo engenheiro José Sócrates.
A segunda ilação foi-me comunicada pela senhora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, acho que é este o nome dela, que declarou ontem que os resultados do seu partido sofreram com “a elevada percentagem de emigração dos últimos três anos”. Ou seja, todas as pessoas que emigraram eram do Bloco de Esquerda. Interessante.
O PCP continua a sua carreira no lirismo e vai apresentar uma Moção de Censura do Governo, que obviamente é uma perda de tempo e não vai resolver nada.
Razão tem uma pessoa que eu conheço, quando diz que Portugal é um país tão pequeno, que não precisa de um governo, mas sim de um conselho de administração. Um presidente, uns quantos administradores e está resolvido. Já agora, chamem um que saiba fazer contas, pelo menos. Já dava jeito.
Uma das ilações mais graves, a meu ver, dos resultados destas eleições, são os 7,15% conseguidos por Marinho Pinto. Muito grave mesmo. Se cerca de 230 mil portugueses votam num homofóbico, xenófobo, retrogrado e preconceituoso Marinho Pinto, que declarou, para quem o quis ouvir que é contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Que acha que as crianças estão melhor numa qualquer instituição do que entregues a casais do mesmo sexo, porque o natural é uma família ter um pai e uma mãe. Entregar poder a uma criatura destas é muito grave e pode ter consequências muito graves na sociedade. Imaginem que o homenzinho algum dia chega a ter um verdadeiro cargo de poder… Vai voltar a proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Vai retirar todas as crianças que estão a ser criadas por esses mesmos casais e devolvê-las a instituições? Vai fazer uma cruzada contra os gays? Vai sugerir o quê, que sejam queimados em praça pública? Ou eventualmente que sejam todos enviados para uma cidadezinha onde não perturbem aquilo que ele considera a “normalidade” do mundo e não ofendam as mentes tacanhas como a dele?
Não gosto de Marinho Pinto e acho inacreditável que tanta gente tenha votado no ser.
A última coisa que me surge referir é que, pela primeira vez, ouvi um político dizer “perdemos as eleições”.
Não me entendam mal. Eu gosto tão pouco do Passos Coelho como qualquer outro português, que tem levado com esta crise por tabela. Ou melhor, eu gosto tão pouco dele como de todos os políticos no geral, mas gostei de ouvir a palavra perder dita sem medo e com frontalidade. Se acho que ele se vai demitir? Claro que não. Porque raio de carga de água o deveria fazer? As eleições, ao contrário do que, aparentemente, pensa o senhor Seguro, não foram legislativas, foram europeias. Ele vai cumprir o seu mandato até ao fim, tal como se comprometeu a fazer quando foi eleito.
O problema que se põe é a falta de alternativa. Alguém confia nas opções existentes para o substituir?