Morreu Manuel Forjaz
Morreu Manuel Forjaz.
Não conheci o Manuel Forjaz a não ser através das entrevistas e dos muitos testemunhos que nos deixou. Agora tenho pena de não ter insistido para ir à apresentação do seu livro para fazer a reportagem. Ou de não ter ido lá a título pessoal para o conhecer…
Agora já é tarde e não é possível voltar atrás.
Portanto, não conheci o Manuel. E podia ter conhecido. E gostava muito de o ter conhecido.
Há pessoas que nos mudam a vida, a cabeça, a forma de encararmos algumas coisas. Ontem quando abri o computador e descobri que o Manuel tinha morrido confesso que chorei. Eu sei, não o conhecia. Mas a sua morte tocou-me profundamente. Mais do que muitas vezes me tem tocado a de pessoas que conheço. Há pessoas que sem as conhecermos, as conhecemos…
Acho que o Manuel é, e escrevi é propositadamente, daquelas pessoas que não morrem. A força que transmitia, o brilho no seu olhar vai permanecer. O seu testemunho de vida, tão grande… Não é possível que uma pessoa assim morra. Por isso eu acho que ele não vai morrer nunca.
Hoje tive de escrever um texto sobre a morte do Manuel e escrevi-o em lágrimas. Aconteceu-me, durante esta minha mini carreira no jornalismo, duas vezes. A primeira foi quando escrevi sobre a mastectomia da Angelina Jolie, a segunda foi hoje.
Geralmente passo bem ao lado da morte. Sou uma pessoa muito pragmática e acho que a morte faz parte do nosso percurso. Todos iremos um dia. E contudo não consegui passar indiferente à morte de uma pessoa que nem conhecia.
Adorei alguns testemunhos como o do Manuel Luís Goucha, do José Alberto Carvalho e do Lourenço Ortigão. Mas muito especialmente, tocou-me o testemunho da Joana de Sousa Cardoso, que há seis anos luta contra um cancro de mama. É para ler e por isso o deixo aqui, na íntegra, esperando que dele retirem o que eu retirei:
“Não o faço nunca, mas hoje sinto essa necessidade... Um desabafo! …Hoje nas redes sociais muito se falou do Manuel Forjaz. Não o conhecia. Mas nutria uma grande simpatia pelo Manuel. Pela forma de encarar a vida. Lembro-me de estar doente e ter visto o seu vídeo... ‘O sentido da Vida’... Porque quando nos sentimos perto da morte é inevitável pensar o que andamos a fazer com a nossa vida. E a maior parte das vezes não estamos a fazer o que realmente gostávamos. Andamos anestesiados por uma sociedade de consumo em que os dias se repetem e nos esquecemos de ser felizes.. Uma amiga uma vez disse-me: ‘Faz o que tens a fazer, mas faz agora!’. Nunca mais me esqueci desta frase e desde então não adio nunca o que acredito que me fará feliz agora... Não sei como vai ser o meu amanhã... Há 6 anos que faço quimioterapia e amanhã por coincidência vou fazer marcadores Tumorais e exames para saber se dia 3 de Agosto de 2014 é o dia mais feliz da minha vida e páro finalmente com os tratamentos. É um desabafo... Porque não consigo deixar de me sentir cada vez mais perto da morte com a notícia de hoje... Durante todo este processo foram várias as pessoas que se cruzaram no meu caminho, amigos, familiares, pessoas que admirava (e continuarei a admirar) que não resistiram à merda desta doença! Sinto-me profundamente triste e impotente... O sentido da vida? Não faço ideia. Mas não vou nunca adiar ser feliz”.
E está tudo dito! Sejam felizes. Às vezes é bem mais fácil do que parece.