Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Eu e o mundo

As minhas impressões, opiniões e outras coisas acabadas em ões sobre o mundo, pelo menos o mais próximo de mim.

Os meninos brincam com carros, as meninas com bonecas...

Os meninos brincam com carros, as meninas com bonecas…

É assim, de forma inconsciente, que começamos a enfiar preconceitos e ideias feitas nas cabeças das crianças. Preconceitos que mais tarde se podem revelar muito dolorosos para quem é alvo deles.

Acabei de ler há uns dias “O Sexo Inútil”, de Ana Zanatti. Um livro que acabou por se revelar um enorme murro no estomago para mim, que até nem me considero uma pessoa preconceituosa, xenófoba ou racista.

“Queria muito encontrar uma palavra que denunciasse esta desrazão”: de como o amor pode transformar-se numa doença aos olhos de quem ama ou de quem a ele assiste. Uma palavra que despertasse em todos a consciência de que o nosso valor é determinado por nós e não o podemos deixar à mercê dos outros, de que não podemos transformar a nossa dignidade e liberdade de ser, numa espécie de acção cujo valor sobe e desce consoante as tendências do mercado. Uma palavra que, mesmo quando sentimos que alguém desrespeita ou não reconhece a nossa humanidade, quando somos excluídos e ofendidos, mantivesse bem presente a nossa identidade e lhe desse a possibilidade de se manifestar na sua plenitude. Uma palavra que não permitisse que a nossa face vulnerável, o desejo de agradar, os medos e inseguranças abrissem uma brecha na nossa mais profunda identidade e uma mão estranha se apropriasse do que é nosso por direito”.

Este é o primeiro parágrafo de um livro de 517 páginas onde Ana Zanatti fala sobre o medo de amar que ainda sentem muitas pessoas hoje em dia. Porque no fundo é apenas disso que falamos, de amor. E o amor não tem credo, raça, idade, classe ou género, é simplesmente amor e como tal deve ser olhado.

Como escrevi atrás não penso ser racista, xenófoba ou preconceituosa, mas também eu faço inconscientemente algumas perguntas que podem ferir ou magoar a outra pessoa, mesmo que não seja essa de todo a minha intenção. “Quando é que arranjas uma namorada/o?” é um bom exemplo. Imaginemos alguém que se encontra numa fase de descoberta ou de confusão sobre a sua sexualidade e a quem é perguntado isto, sempre supondo que o objecto do amor será um ser do sexo oposto. Já imaginaram o sofrimento e angústia que uma pergunta destas pode representar? Pois, nem eu. A partir de agora vou tentar simplesmente perguntar, “quando é que te apaixonas?”, que me parece muito mais sensato. Ou então não perguntar nada porque a verdade é que não me diz respeito a vida amorosa de ninguém.

No seu livro Zanatti incluiu muitos relatos de pais e filhos, alguns dos quais verdadeiramente chocantes e vai acompanhando a história de Joana, uma estudante universitária de Medicina em luta contra o preconceito da sua família e com o medo de não desiludir os pais ou defraudar as expectativas e sonhos que eles criaram para ela. E que vive infeliz porque a vida que vive não é aquela que escolheria.

Do ponto de vista de uma mãe, houve um capítulo que me tocou ainda mais, aquele em que se fala da “saída do armário” dos pais que descobrem ter filhos homossexuais. Um ponto que até agora não tinha lido ou visto abordado, mas que me parece da mais fundamental importância. Porque os pais, mesmo alguns dos que dizem aceitar (que raio de palavra, também os teriam de aceitar se não fossem gays?), acabam por consciente ou inconscientemente “esconder” os filhos das suas relações sociais. Quantos pais é que já ouviram, em resposta à pergunta “então o teu filho já tem namorada?”, responder “não, o meu filho tem um namorado”? Eu confesso que até ao momento nenhum e até conheço alguns casos. O que é triste, porque na verdade acabam por criar um enorme sofrimento nos filhos que para estarem com os pais, tios, avós, primos, amigos, etc, têm sempre que deixar os seus companheiros de fora. Mas já se for uma filha com um namorado ou um filho com uma namorada as coisas são diferentes. Triste, muito triste.

Os pais apenas devem desejar para os filhos que estes sejam felizes, que amem e sejam amados e não se preocuparem com a opinião da vizinha do sétimo esquerdo que não tem nada a ver com o assunto. E devem ter orgulho nos filhos, sejam gays, hetero, bi, ou o que forem, porque afinal eles serão sempre seus, independentemente das suas orientações. Devem simplesmente amá-los porque eles serão sempre as mesmas pessoas e não é uma orientação sexual que faz um ser humano. Mais importante do que saber quem dá a mão ao filho é importante saber que existe alguém que lhes dá a mão e os faz sorrir. Alguém que caminha ao lado deles e partilha os seus sonhos.

A vida é uma caminhada demasiado pequenina para nos perdermos em pormenores. Sejam felizes.

Os meninos brincam com carrinhos e bonecas e as meninas brincam com bonecas e carrinhos… E o mundo será um sítio mais bonito.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Mais visitados

    Arquivo

    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2016
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2015
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2014
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2013
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2012
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    Em destaque no SAPO Blogs
    pub